sexta-feira, setembro 29, 2006

DINÔ

Dinô, carinhosamente assim tratado pela sua mulher de origem belga, por não conseguir pronunciar o seu nome próprio Fernando, homem na casa dos setenta e cinco anos, trava neste momento uma terrível guerra que não conseguirá vencer, é chegada a sua hora de dizer adeus e partir para os braços de quem realmente o ama, esta viagem não é determinada pela sua vontade, nem contudo sabe quando terá inicio, tem o bilhete desde aquele dia remoto em que os Pais, num gesto de amor reuniram condições para ele ser seu filho, não único mas com mais irmãos, é Pai do coração de uma mulher que mesmo não sendo sua filha, é tratada como tal e nutre por ele mais carinho que algumas filhas biológicas sentem pelos Pais.
Ligam-me a ti laços, que tiveram muitos altos e baixos, em criança por viveres longe, imaginava a tua imagem pelos relatos da minha mãe, sentia-me especial por ter um tio com tanta pica, capaz de ter ido sozinho para tão distante lugar, mais tarde o nosso primeiro encontro dá-se quando eu estou na casa dos quinze, foi amor à primeira vista tu e a tua família abriam-me as portas do mundo, foi inspirado nele que eu, com vinte anos a mesma idade com que tu decidiste partir, eu fiz uma viagem sozinho pela Europa, nesta rota de trinta dias senti que conseguiria alcançar qualquer lugar, desde que assim me apetecesse, nunca tive medo ou me senti isolado, com a morte do meu Avô, não podia sequer ouvir pronunciar o teu nome, não te perdoava o facto de na tua casa, teres um quarto para um casal de cães, mas o Avõ dormia no anexo da casa onde o obrigavas a dormir numa cadeira do tipo americana, na qual ele não se podia mexer, choquei-me porque só descobri isto, quando com uma grande felicidade os fui convidar para o meu casamento, passados dias o meu Avô morreu, fiquei de luto muito sentido pelo que tinha acontecido, não conseguia falar-te só me apetecia atribuir-te a culpa pela morte do meu melhor amigo, resolvidas as coisas dentro de mim reatamos relações, recebi a noticia de que o Dinô como hoje te trato estava internado, fui ver-te, estás com um cancro no esófago, não consegui dizer-te em discurso directo porque não sabes o que tens, entretanto já escutei o teu lado da história com o meu Avô, no fundo tens um coração de ouro, tenho orgulho em seres meu tio, não tomaste o lugar do teu Pai porque era único, mas serás recordado.

quinta-feira, setembro 28, 2006

GRILOS

Ontem durante uma deslocação nocturna, fui ao largo da Igreja, parei o carro e o hábito de fumar fez-me sair dele, no silêncio que a praça vazia mostrava, oiço um certo barulho, um grilo a grilar, pensei que deveria estar a sonhar, como já iam longe os tempos em que os caçava para os colocar numa gaiola e ouvi-los cantar, dirigi-me para o local de onde o som provinha estava parado num canto um grande grilo que cantava bem alto, um pouco afastado dele um outro que se mantinha silencioso, o som que me encantava em criança incomodava-me agora pela sua simetria, se é que se pode dizer que um som é simétrico, pensei vou apanha-lo e pura e simplesmente cala-se de vez, mas nesse preciso momento pensei mas que mal é que ele te está a fazer, apenas canta se te chegares junto dele para e como tem medo de ti foge para outro lugar, decidi-me por esta hipótese, e o grilo calou-se fugiu de mim, ao outro fiz exactamente a mesma coisa também fugiu, não sei se seria um macho e uma fêmea, porque nesta coisa de grilos não identifico claramente o sexo de cada um, tal como nos peixes, pergunto a pescada é fêmea ou macho, a grila é a fêmea do grilo, sei que em português existe uma designação para estes substantivos, mas não me lembro.
Para ocupar o resto do tempo que me faltava para acabar o meu cigarro resolvi começar a medir a largura da escada da Igreja a passo fiz isso uma série de vezes mas não me recordo da sua medida, porque de cada vez que estava próximo de chegar a um dos extremos as luzes dos carros mostravam-me que o bom senso me deveria fazer para com a inocente brincadeira sob pena de no outro dia a aldeia ter mais um motivo de conversa, já estou a imaginar no café o centro de informação, sabes fulano estava ontem no largo da Igreja a medir as escadas a passo, vinha outra, dizia não só estava a medir como também a fumar, a outra, não para além disso segurava uma bola na ponta do nariz, estás parva responde uma outra que não tinha visto rigorosamente nada fulana disse-me que não era nada disso ele estava com uma grande bebedeira parou o carro e como queria verter águas, foi para as escadas pensando que eram os balneários públicos, que por acaso até estão fechados, estava mesmo a molhar as escadas eu vi a mancha, moral da história os grilos e o medir é a realidade, o resto segue a máxima, quem conta um conto acrescenta um ponto.

quarta-feira, setembro 27, 2006

HELINA

Helina, judia que um jovem cristão desposou, é oriunda de Israel, conheceram-se quando ele militar para receber treino militar, se deslocou aquele País, pois pretendeu em tempos o Governo criar uma unidade especializada em detectar minas com a ajuda de caçapos previamente formados, para fazer face a uma eventual guerra quente com a vizinha Espanha, tem um sotaque muito carregado, a sua capacidade de expressão em Português é francamente reduzida, nos olhos transporta a cor do deserto quando esta carregado e a terra toma aquele tom castanho ocre, os seus cabelos muito longos andam normalmente soltos ao sabor do vento, são louros muito claros indiciando que terá antepassados nórdicos, apesar do amor que a une ao marido, transmite nostalgia em cada palavra que pronuncia, está perdida muito longe da sua terra natal, é mais o tempo que o esposo passa fora motivado pela sua actividade, do que aquele em que frui da sua companhia.
Sentindo-se presa na sua própria habitação, resolveu um dia aventurar-se sozinha pelas ruas da cidade, vagueou por becos e colinas até que fatigada, achou melhor sentar-se num banco existente num miradouro, ali se quedou olhando em redor, como é diferente esta terra, onde está o meu querido mar morto, com as suas praias de areia fina e a água quente que consola a alma, como tudo é estranho aqui, pensou na boa comida que podia apreciar no seu colonato, excelente cozinheira Helina decidiu-se por abrir um restaurante típico, foi tal a alegria que começou a cantar, deixando surpresas as pessoas que passavam, a sua voz cristalina fazia lembrar os cânticos dos contos de fadas, estabeleceu-se tal harmonia que por momentos ninguém pensou na renda da casa, no chefe parvo, na guerra do Líbano entre outras coisas que nos atormentam, ela indiferente continuava no seu cantar divino, juntou-se tanto povo, que um policia, pensando que era uma manifestação não autorizada, quis tomar conta da ocorrência, é dispersar não se podem aqui manifestar, sua excelência o ministro está a chegar, é desandar se na esquadra não quer passar, a cantora não percebeu metade continuou, eis que o ministro chegou, pelo canto se encantou logo ali lhe delegou competências, para por ele cantar para os papalvos enganar, sem ele ter que falar e de uma boa surra se livrar, que muitos lhe queriam dar.

HÉLIO

Hélio, para quem a escola sempre foi um tormento, este mocetão de vinte e dois anos ainda não conseguiu concluir a escolaridade obrigatória, gosta de tunning ou seja de carros transformados, surf, body board, escalada, estudar é que não, cansados os progenitores resolveram com o seu consentimento inscrevê-lo num curso de formação profissional, que após conclusão com aproveitamento cem porcento garantido, é extremamente difícil chumbar um aluno deste ensino recorrente, mesmo que ele não mostre qualquer tipo de aptidão para o mesmo, lhe confere a escolaridade mínima e a possibilidade de exercer uma profissão, o problemas estava na escolha tanto procuraram na oferta disponível que o nosso jovem acabou por se interessar por um, operador de produtos hortícolas e florícolas, por ser de todos o que não exigia conhecimentos prévios, falava algures na manipulação de ferramentas e outras espécies, que ele relacionou logo com o tunning.
Chegado ao primeiro dia de curso o nosso homem, entrou resoluto na sala de formação, quando o formador usando a técnica do quebra-gelo, se apresentou dizendo-lhe a ele e aos outros formandos uma já muito velha e gasta anedota, aquela do branco é galinha o põe, quem o gala é o galo toma lá um estalo, esboçando o gesto de dar um estalo na cara de um dos formandos, Hélio abriu a boca de espanto e disse: Nós de acordo com o contrato que assinámos não podemos exercer ou sofrer qualquer tipo de violência, só temos que nos limitar a estar aqui entre as nove e as dezassete horas, com intervalo de uma hora para almoço e dez minutos entre módulos durante três anos sendo-nos depois conferido o grau II de especialização profissional, pelo que exijo de imediato o livro amarelo das reclamações, lavrou nele o seguinte: Hélio fornando quinze do curso de fornação de opirador de prudotos hortículas e flurícolas vem riclamar do fato, e não facto, do fornador ter dizido uma andota já muita velha, ele deve dezer a da praça de Madrid, com uma lingagem bué actual, agente já na vê os gadenáceos na caproeira, só nos super, eles estão despidos, na sabemos o sexo, idade ou outras cosas, a reclamação foi enviada para a autoridade competente, aguarda resposta, que deverá ser dada num prazo de cinco dias úteis, entretanto o formador já contou a anedota da praça de Madrid com todos os detalhes, imagem e sons incluídos.

terça-feira, setembro 26, 2006

JACA

Jaca, diminutivo de Joanina Catilina, por manifesta inconveniência da própria, em usar o seu verdadeiro nome, de tão traumatizada que foi durante o ensino básico, por tão invulgar escolha dos Pais, cresceu com demasiados complexos, raramente usa saias pois na sua opinião tem as pernas demasiado gordas, o cabelo deve andar sempre curto estilo militar, porque o rosto é demasiado pequeno para os usar longos, nutre uma paixão por tudo quanto é doce, talvez por nunca se ter casado, mesmo com quarenta anos ainda vive na casa dos progenitores, é funcionária pública passa os dias a carimbar as entradas e saídas das pessoas do local do seu trabalho, apesar de possuir um Doutoramento em Ciências das Micro Algas do Estuário do Tejo, nomeadamente dos mouchões até Alhandra, objecto de uma tese que lhe valeu aclamação e louvor tal a qualidade, pois ela até descobriu uma sub variante “rosal folies emudecida”, não conseguiu arranjar melhor colocação.
Desesperada com falta de farrear, resolveu ir numa excursão organizada pelo grupo dos singelos, segundo lhe disseram talvez fosse possível encontrar lá a sua alma gémea, para passar a fazer parte do grupo dos amargurados, contactou o responsável, no dia marcado era vê-la prezada dirigir-se para o encontro, as pessoas foram chamadas a cada uma foi entregue um bilhete com o número do seu lugar, ficou sentada à janela, ao seu lado ficava vazio o lugar à medida que todo o autocarro se enchia, pensava em desistir eis que surge na entrada um homem elegantemente vestido que se dirige para o organizador dizendo-lhe, o habitual, sim responde o outro, dirige-se na direcção de Jaca, senta-se compõe o cabelo e diz-lhe, desculpe por só agora chegar tive que ir buscar mantimentos mostrando-lhe um pequeno saco, comida para quê se estão incluídas as refeições, pensou ela, fizeram-se as apresentações, na primeira paragem o companheiro de Jaca, tirando do saco uma pequena caixa diz-lhe é servida, faça favor pode provar tenho o resto para acompanhar, ela provou de tal modo gostou que repetiu até se engasgou, ele solicito tentou retirar-lhe da boca aquilo que a perturbava, dizendo-lhe talvez fosse depressa demais foi-lhe ao goto, quer continuar mas mais devagar, ela nada respondeu mas pensou, qual tirar por nada perco tão bom caviar, é disso que se estava a falar.

IOLIAS

Iolias, professor universitário, de origem alemã, próximo dos sessenta, solteirão vive sozinho com o seu gato brecas, a sua presença faz-se anunciar muito antes de se avistar, usa um perfume de tal modo intenso, que até as moscas fogem dele, as suas aulas são uma perfeita seca, tal o tom monocórdico que usa para explanar a matéria, óculos na ponta do nariz de vez em quanto penteia as melenas com um gesto muito característico de quem está nervoso, tem sempre uma caneta na mão, descarrega nos seus alunos toda a carga negativa que a sua vida lhe tem dado, as recentes alterações que o processo de Bolonha introduziu no ensino, deixaram-no ainda mais inseguro, a maior parte dos actuais educandos resolveu substituir o seu prezado cadeirão por outras mesmo que sejam de grau de dificuldade muito maior, indiciando o grau de descontentamento que detêm pela sua disciplina, apesar das muitas avaliações negativas que ao longo dos anos tem obtido, mantêm-se no activo tal estátua do Rei D. José I, na Praça da Figueira.
Sofreu recentemente um desgosto profundo o brecas tomado de amores por quiçá uma gata, resolveu fugir de casa num dia em que Iolias, pela manhã tomava o seu banho, tal foi a atrapalhação que ele tal como estava, veio a correr para a rua clamando, brecas, brecas volta para o dono não comes mais bonecas, uns alunos que passavam por perto, vendo o professor naqueles preparos, taparam a cara com as batinas começando a gritar, brecas foge do dono que já não come bonecas, infâmia gritou o douto catedrático, quem sois vós que tão mal me tratam, não sede cobardes retirai as vossas capas, destapai as vossas faces, qual gigante assustado pelo Adamastor ele dirigiu-se a eles, delirando com a situação os meliantes continuaram a andar gritando cada vez mais alto, o nosso herói com a fúria à flor da pele esqueceu o bichano, foi no rasto deles, nem se apercebendo que eles o levavam direitinho para a Faculdade onde ele exercia o seu mister, foi um delírio a sua entrada, perante o inusitado o nosso homem estava nada mais, nada menos do que vestido com uma touca na cabeça, chambre de seda em cor-de-rosa, chinelinhas de quarto com pompons no mesmo tom, soquetes brancos presos com uma liga á perna, pensaram que ele estava vestido só com a epiderme, mas a foto ficava mal com um associado já há muito reformado.

MISTURAS

Misturas, das experiências de Grastão e Gresto no salão do Têpratias, estes dois amigos num dia de inspiração, resolveram testar as suas aptidões culinárias, utilizando produtos hortícolas originários da Quinta do Cerro, no espaço acima referido, vestidos com o rigor que a ocasião merecia, depois de fechado o estabelecimento, já se tendo ido embora todos os funcionários e a proprietária, começaram por pelar uma cenoura e dois tomates para extraírem o respectivo sumo, operação deveras complicada pois só lhes mexiam com a ponta dos dedos para não estragarem as mãos recentemente arranjadas na manicura, sem qualquer sucesso e apesar de todos os esforços do suco nem gota, olharam ao redor em busca de algum auxiliar de cozinha para a sua tarefa, nada sem sombra de algo eficaz, eis que Gresto lembrado de uma inscrição no Pantagruel sobre a forma de retirar rapidamente a pele aos produtos da horta, diz a Grastão, baixa as pernas segura-me a cenoura na mão, enquanto eu agarro nos tomates, agora faz deslizar os teus termos acima e abaixo enquanto eu procuro um tacho, mas devagar para nada se entornar.
Estão os dois amigos nesta manobra, eis que a luz se vai embora envolvendo-os na mais fúnebre escuridão, por ser pedreiro Gresto deveria estar habituado a trabalhar em locais sombrios, tinha no entanto muito medo do escuro, dando um grito diz ai Grastão tão grande negridão agarra-me na mão, tacteando o amigo procurou-o até que encontrou aquilo que lhe pareceu ser uma mão, pois ele também estava um pouco apavorado, tinha-se esquecido de tomar o profilático para as dores de ventre, não saberia qual o resultado se não utilizasse de pronto a casa de banho, mas por um amigo tudo se faz, lá foi movendo a mão para acalmar o amigo, até que sentindo-a húmida perguntou Gresto que molho é este? Olha Grastão de tanto passares a mão, foi tal a excitação, que o molho dos tomates derramou na tua mão, o meu grande amigalhão por tão bom néctar o melhor é continuar, não se sabe o tempo que eles ficaram a extrair sumo dos tomates, a cassete a cores do sistema de segurança acabou não revelando os momentos finais, no outro dia a empregada de limpeza, encontra os dois amigos dormindo no meio do salão um com a cenoura e o outro com os tomates na mão, na parede uma mancha de sumo, que ela cobriu com uma marafona.

FARU

Faru, epíteto conseguido pela brilhante proeza alcançada com o seu apurado olfacto, ao identificar de olhos vendados, num evento registado no livro dos recordes, quinhentos odores diferentes, dentre os quais se destacava, um raro de uma espécie já há muito extinta, conservada embalsamada graças à generosidade de um mecenas, a Amonites Hercúlea planta carnívora, cujo sub tipo ainda existe nos nossos dias, designada por flor do arroz, mas baptizada pelo povo de voto, talvez pela analogia com as consultas populares, mas que com a evolução deixou o seu apetite voraz por carne alimentando-se de fungos e outros elementos contidos na terra, esta flor só desabrocha de quatro em quatro anos por altura do Outono, situação invulgar na Botânica, o seu ciclo de vida enquanto flor dura catorze dias, nesse esse período é ver excursões, munidas do respectivo farnel porque a vida está cara, a visitar todos os cantos do território em busca dela, quando a encontram são manifestações de júbilo, logo ali se faz uma grande festa com direito a tudo porque tristezas não pagam as ditas.
Na romaria do passado ano de dois mil e cinco, Faru também participou, foi vê-la desvelada com um sorriso agigantado de orelha a orelha revelando os dentes tão afilados quanto os de um pastor alemão, a abrir caminho cheirando para o chefe ter a felicidade de encontrar uma flor, apesar do empenho não foi bem sucedida, andou triste durante meses, a sua característica única estava a evaporar-se sem ela de pouca utilidade seria a sua presença, para recuperar forças e quiçá o seu faro, resolveu aceitar um lugar no recém criado para ela, GREF - gabinete de protecção as evaporações de fedores, com competência para elaborar um dossier com todos os planos de acção necessários para o retrocesso do fenómeno, por entre dúzias de colaboradores reclassificados na carreira de informáticos, foi vê-la dando ordens para cá e para lá, até que na NET encontrou a solução para o seu problema, sem qualquer pudor, pois já há muito que o tinha perdido em todos os poros, copiou tudo, entregou ao chefe com uma reprodução barata, por isso pouco fiel da cartilha maternal, espécie rara hoje pouco utilizada no ensino, por este facto o dossier continha toda a sorte de erros, que o chefe para não deixar mal a sua protegida, tratou de corrigir no maior dos segredos, pois isto de ter amigos é o que é e vale pelo que vale, ou seja boas cunhas.

INGRIA

Ingria, de origem belga, viveu em Luanda até que a independência daquele País a fez vir para Portugal, fala fluentemente várias línguas não as aplica, o casamento com um influente político obriga-a a passar os dias numa completa lazeira, para quebrar o tédio tem uma agenda social muito preenchida, são compras nas melhores lojas de Paris onde vai pelo menos uma vez no mês, chás de caridade e outras coisas tais, como se encontra muito ocupada, com uma imensa falta de dinheiro, para além de guarda costa pago por todos nós, tem empregada de dentro, outra de fora, cozinheira, jardineiro e o seu inseparável mordomo, mora num palacete ali para os lados da Quina, edificação do século XVI, herdado pelo Pai, descendente directo do Intendente Pina Manique, a habitação é um deslumbramento, sobretudo à noite com os seus jardins bem iluminados, uma fonte de receita extra, que ela utiliza para fazer face às despesas com o treino da cadela piche anã, já várias vezes metralhada em provas nacionais e internacionais.
Mas as recentes jornadas do partido, em que o esposo não milita mas pelo qual foi eleito como independente, determinou que todos quantos não militavam na causa, fossem afastados de qualquer actividade, não o afectava uma vez que tinha sido eleito, mas pelo sim pelo não, fez com que ela adoptasse um estilo de vida diferente, passou a trabalhar numa empresa de limpezas onde desempenha o lugar de assessora do dono, que por acaso até tem um contrato com o órgão em que o marido trabalha, para além doutros nos diferentes lugares onde os capangas ocupam posições, num dia de inspecção por acaso ao local de trabalho do seu adorado esposo, Ingria ao verificar o estado de limpeza do recipiente de papeis usados, notou que no fundo deste estava algo a brilhar, era nada mais nada menos do que a prova que ela necessitava para justificar as longas noites de serão do seu idolatrado, ávida de recolher a prova do crime, baixou-se o chão escorregadio conjugado com a acção da força da gravidade, fez com que ela perdesse o seu ponto de gravidade estável mergulhando dentro do caixote, lá bem no fundo estava finalmente o indício, uma embalagem suja de um restaurante de pronto a comer, pensaram que era outra coisa, ai essas mentes a pensar que a senhora tinha um par dos ditos como aqueles animais que trabalham na beira.

sábado, setembro 23, 2006

PELI

Peli, aplica-se de feição a este figurão o provérbio ou velhaco ou dançarino, estatura baixa, donde sobressai um proeminente bandulho, tez negra mostrando que é descendente de Africano, falas mansas e olhos de carneiro, artista de circo tem no equilibrismo a sua especialidade, treina todos os dias um novo número que pretende transformar em grande atracção, consiste a performance em lançar bolas de sabão, enquanto faz um mortal atado de pés e mãos com uma raquete presa na boca, apesar do muito treino, de todos os concelhos, que a parceira de cena lhe dá para desistir, o asno continua a treinar, já por várias vezes foi parar ao hospital, consequência directa das quedas provocadas pelo piso escorregadio, numa dessas repetidas idas, aliás é por sua causa que hoje pagamos taxas moderadoras na saúde, tal foi o trambolhão que para lhe enxertarem o osso da bacia partido, junto ao seu terminal de saída de detritos sólidos, tiveram que recorrer a uma suína de raça preta retirando dela a zona junto ao útero, não voltou a ser o mesmo, agora a zona tem dois sentidos alternando a saída com a entrada.
A sua existência na condição de transplantado, trouxe-lhe acrescidas vantagens, já não tem que se preocupar com as inúmeras contas, provocadas pelo uso excessivo do cartão de crédito, arranjou nova forma de obter lucro rapidamente, dá o dito ao manifesto ganhando chorudas quantias, a sua vida no circo também se modificou, é agora ajudante do domador de elefantes tem a seu cargo apenas a limpeza das suas partes intimas, estava ele na função quando um dos mamíferos agitado pela sua manipulação, resolve expelir um liquido que embateu primeiro na face de Peli, escorrendo depois pelo resto do corpo, a sua primeira reacção foi de raiva, resolvido a mostrar a sua fúria procurou um pau para bater no paquiderme, esse gesto mostrou-lhe que os seus movimentos antes um pouco presos por problemas anteriores, estavam leves quanto os de um maestro na regência de uma orquestra, associou o facto ao incidente, se me fez bem a mim fará a outros, vendo a oportunidade do nicho de mercado, iniciou a recolha dos líquidos, comercializando-os com o nome de elixir rijinha cura males da pincinha, foi ver os elefantes a correr, ele a aprender, e ver o mais bonito para no sesso esconder, ou lá vai um, lá vão dois, três baralhos a entrar, devagar só para não engasgar.

VÃO

Vão, para tal procurem dois paus com sete centímetros de diâmetro e vinte e cinco de comprimento, utilizem as vossas extremidades superiores, transportem apenas aquilo que for escrupulosamente necessário para a viagem, não se distraiam com as moscas ou outros objectos voadores que possam sobrevoar a zona, procurem um local calmo e façam a vossa recolha, não esqueçam que o produto deve ser recolhido o mais fresco possível e acondicionado de tal modo que chegue ao laboratório nas mais perfeitas condições de conservação, só assim poderá ser determinado o grau de pureza, verificando-se se estão reunidas as condições de comercialização do produto, a norma manda que a colheita se efectue preferencialmente em zonas amplamente arejadas, respeitando-se a temperatura de 23º C, para que não se alterem a consistência, cor, grau de humidade e forma, não esquecer que a embalagem de transporte deve ser revestida a folha de papel de alumínio, previamente seca com um pano de seda, na transposição do local onde ele se encontra para a caixa, a normativa recomenda que se apoie o pé esquerdo, se levante o direito para que o ângulo de inclinação seja o adequado.
Deve ser cumprida a resolução, vinte e três de quinze de Setembro do corrente, em que pelo concelho de administração, ficou determinado que apenas os indivíduos portadores do certificado especifico para a recolha, ponto cinco do manual de qualidade, podem garantidamente desempenhar esta tarefa, na exposição temporária do produto à vossa manipulação, o pau suportado pela mão esquerda terá que estar afastado trinta centímetro do pau da direita, evitando-se assim um choque de paus que iria danificar o desfecho, também está vedado o uso das palavras durante o acto pode alterar o teor de salinidade, se for necessário fornecer qualquer indicação esta deve estar previamente escrita, usando-se apenas a cabeça para mostrar o que se pretende, uma vez que as mãos estão ocupadas com a manipulação dos paus, se quem nos acompanha não compreender as instruções, continua-se a preparação, cobre-se o produto com látex sem lubrificante, conta-se até cem, espera-se mais um pouco, se mesmo assim ainda não se obteve o resultado pretendido, aguarda-se até que o aquecimento provocado pela fricção seja suficiente, para que se dê a reacção de expulsão, sem isto não é possível ter sucesso.

quinta-feira, setembro 21, 2006

BICHANITOS

Bichanitos, deveria mais propriamente chamar-se Bichãovino, mas como esta palavra não existe na Língua Portuguesa, optei pela designação genérica de animais, para falar aqui da ligação que existe entre Bichão e Vino duas personagens anteriormente apresentadas, Bichão andava contrito porque a sua amiga Mona, já há muito que não o visitava, sôfrego no seu poleiro, chagava quem passava por perto com perguntas sobre a sua aliada é ai que vindo Vino a passar nas cercaduras ele o inquiriu, ó tu que ai vens diz-me o que me convém, viste Mona cadela de estimação que em casa do Sandro vai estando, responde-lhe Vino, ela não vi, mas já que estou aqui, me diz, sabes de um lugar onde quem com fome de papel, pode deitar a mão, retruque o outro, mas qual é a tua aflição por não encontrares função, se estou eu aqui com a solução, basta para tal que te pouses de feição, mas qual é esse jeito de que falas, ouve tens que seguir tudo o que te narro, enunciou-lhe uma série de coisas que de tão extensas me ressalvo de enumerar, tendo como resultado final Vino de quatro e Bichão a ugar de felicidade.
Como não ia prevenido no primeiro encontro que teve com Bichão, Vino saiu um pouco macerado, tornou mas já provido de material de combate, propões que fossem os dois passear até ao jardim, local cursado e muito chique do burgo, disse-lhe para evitar confusão com outros bichos de estimação, tu meu pegado tens que ir paliado, dito isto pegou no Bichão, colocou-o nas calças num aposento próximo do introdutório, com amplas vistas para as orbes, embalado pelos balancés, sentiu a frincha pululante do seu benfeitor, requerer que sem demora lhe prestasse vassalagem, urdiu desde logo afincar com toda a sua denotação, Vino sentindo o calor de tão pujante aplicação, aliviou o passo para lograr acompanhar o balanço das fofas carícias do seu romeiro, à medida que se alardeava com o contento, passou por eles um ausente vate, que em alta voz vociferou eu que tão inspirada cena vi aqui, desde já vos digo, com muito riso a prosa vou passar o que acabei de presenciar, soltando sonoras casquinadas a tal ponto que um retratista, registou o facto em película ganhando com ela uma elevada distinção da Associação Mundial da especialidade, acompanhada por uma boa maquia que lhe permitiu comprar um andar novo, o poeta morreu mesmo depois de publicar a história.

VINO

Vino, tosco, rude e mentecapto pertence a uma categoria de pessoas de quem o sol foge com receio de ser por ele apropriado, oportunista confesso pavoneia a ignorância por tudo quanto são cortes da SP, Sociedade Política, é tal o seu seguidismo e a ânsia de se fazer notar que durante uma exposição num Município vizinho do seu, onde era esperada a presença do guru da sua seita, andava qual perua tonta pela aguardente, que ingere antes de ser abatida, a percorrer o espaço dando voltas concêntricas por forma a encontrar-se de frente com ele, para assim numa prova de adscrição e capitulação, baixar o traseiro e lamber o anel que o dito trás no dito, por outras palavras, lamber o cujo que contribui com a sua parte para a propagação da humanidade, este lerdo usa a máxima de elevar a voz para se fazer ouvir, o pior é que quando abre a boca, dela só saem sons parecidos com aqueles que a ingestão de uma feijoada provoca no ser humano, impelindo quem o ouve, a fugir como criança quando lhe contam a história da policia e do ladrão.
Num dia em que a sua elevada sandice, estava com níveis tão elevados como o ozono, desfrutando das delicias de uma massagem com cardos, manejados por um dos seus capangas, entretanto promovido a seu escravo, com delegação de competências para lhe satisfazer todas as lazeiras, afogueado pela enfunada que os riços da planta lhe açulavam na quimbunda, sentindo saudades dos movimentos rítmicos de penetra e vice versa no seu espiráculo, que já há muito não experimentava, porque mesmo o seu servo se denegava a ferrar o objecto em tão pretensa bunda, à falta de melhor dirigiu-se para o prado próximo da sua casa resfolegando-se na erva que o cobre, lá encontrou desvalido um azarado equídeo a quem uma fêmea, por míngua do mesmo, deixou desvalido a meio da função, começou então o Vino a rinchar qual égua em época de berra deslocando-se como ela, apoiado nos membros superiores e inferiores, exibindo as qualidades do seu assento alçando o mesmo para o ajustar à altura proveitosa para a missão, chegou próximo do animal este ouvindo tais sons de encantamento, usou a sua verdura e zás deu utilidade ao que estava tão cerca da sua trincha, depositando nela tal quantidade de sousão, que o nosso herói apanhou uma indigestão rectal, que tratou usando talo de couve lá no sitio.

ACRO

Acro, amigo de longa data do autor terá que sair beneficiado desta gesta, para não fugir à regra de que todas as lábias são facciosas, magistral apreciador do néctar dos Divos, bem acompanhado por um lauto repasto, é uma figura muito parecida com um inspector de polícia de um conto infantil, estrutura baixa, já um pouco calvo, tem um sentido de humor muito rematado, difícil de perceber por quem não possuir os neurónios no seu lugar, ocasionando por vezes situações de algum melindre entre os seus ouvintes, certa ocasião já bem atestado resolveu explicar a razão pela qual nutre um carinho pasmoso por sarda grelhada, amante dos detalhes, começou por explicar que este peixe habita em águas temperadas é pescado à rede, pertence à família das penisatesasja, que tem como principal característica o facto de quando tocado, para se defender acabar por expelir um espécie de ranho, que faz as delicias de outras castas, um dos outros convivas bem lotado, ouvindo isto responde-lhe: grelhada não está mas se quiseres aqui está, de pronto colocou a sua ponta ao alcance do espantado orador.
Noutra situação, amigo do seu amigo, estava Acro tomando o seu banho de imersão, altura em que aproveita para brincar com o patinho que lhe deram em petiz, sente que algo estava a mexer dentro de casa, como vive sozinho pensou, aqui há tareco por certo, saltou da tina e pegou no que lhe estava à mão para decidido fazer uma anda pela habitação, começando pela sala próxima do banheiro seguiu-se a cozinha, corredor, dispensa, hall e escritório, sem nada encontrar, estava já disposto a acabar o que tinha começado, quando ouve um rebuliço vindo da direcção do seu quarto de cama, mas o que é isto vindo da minha deita, tinha o hábito de dormir imerso na mais profunda escuridão, qual morcego quando o dia vai alto, acende a luz e qual não é o seu marasmo, quando na sua alcova avista um vulto, só posso estar de ressaca, a noite anterior tinha sido de festim, mas sim na sua tarimba estavam formas que era suposto não estarem lá, levanta os panos e com grande surpresa, vê um corpo vestido com a roupa que a mãe lhe deu quando nasceu estirado na sua pildra, abriu mais os olhos para dissipar alguma réstia de sono que porventura o poderia confundir, gritou levanta-te dorminhoco que o sol altaneiro já chama pelo teu traseiro, foi só um sonho traiçoeiro.

quarta-feira, setembro 20, 2006

POLA

Pola diminutivo de Paloma, espanhola da orla fronteiriça achou aqui a sua oportunidade de negócio, dona de boas mãos para trabalhos manuais, por falta de saída no seu País, mudou-se de insígnias e cacaréus para o lado de cá da fronteira, mal chegou tratou de se instalar com fausta e momenta, abrindo um atelier de artes manuais, para criar ainda mais impacto na hora de atribuir um nome ao espaço depois de bem pensar achou que, dom de mão, servia na perfeição, tratou ela da decoração até à exaustão, fatigada depois de trinta dias de intensa batalha, para obter permissão para legalizar o seu negócio, mesmo recorrendo à Empresa na Hora, finalmente na sua mão estava o almejado horário de funcionamento, que lhe permitiria abrir o dom de mão, tratou de o afixar no lugar reservado para esse efeito, mas não contente com o resultado acrescentou-lhe um tubo de néon de cores fortes, representando uma mão que delicadamente segurava uma pena, para dar o mote ao seu negócio.
Por ser curioso transcrevo a parte do horário que se refere ao período de abertura, Segunda das 20H às 8H, patuleia, condições especiais para reformados, Terça das 10H às 22H, abolia, manipulação de derivados, Quarta das 24H às 12H, lunada, para gente cismática, Quinta das 14H às 2H, oposição, trabalho arte de salão, Sexta das 4H às 16H, mungida, obrigatório o uso de protecção, Sábado das 18H às 6H, abafa, pró resto da populaça, Domingo 8H às 20H, aferição só por marcação, gente de condição, com tão requintado horário, foi ver as gentes formando filas para o ler, feitos os convites da praxe, chegou o dia da abertura, as senhoras usando requintadas criações, os homens as velhas casacas já traçadas pela falta de uso, frufru foi quando as portas finalmente se abriram, aparece Pola deslumbrante num vestido feito por ela com material reciclado, aonde aparecia toda a sorte de coisa, mesmo aquelas que se usam em ápices mais reservados, as damas cegadas com tão invulgar veste, ficaram ruídas de emulação por não fruírem das mesmas qualidades, os homens só posso dizer que foi a debandada geral para o café da aldeia em busca de gelo para amansar o acolchoo que se gerou, de tal modo que o dono do lugar raivoso por não ter recebido convite, resolveu cobrar uma exorbitância por cada saco, para bem apinhar o papo, consolar a sapuda mão com tanto bago fresco pois então, mexilhão.

JOCA

Joca, abreviatura de Jornas Oprimente de Caldeando Afrento, é agora o padeiro da aldeia, ele já fez um pouco de tudo, não se pode chamar o homem dos sete ofícios, mas ele já foi árbitro de futebol, abandonou depois de o descobrirem despido e de joelhos no balneário da equipa derrotada depois de um jogo que ele arbitrou, tal foi a vozeia que ele para sair encapotou-se de mulher, gostou tanto do disfarce, que nessa noite foi para a night, fazendo furor numa conhecida discoteca, achou que podia passar por ali a sua sobrevivência durante uns tempos foi dama ao pair, servindo bebidas e salgadinhos com um tabuleiro pendurado ao pescoço naquele local de desenfado, só tinha um problema quando os clientes pretendiam algo mais que a bebida e com a mão procuravam aquele espaço entre as ditas que nos ajudam a andar, encontravam um objecto, que fazia recuar alguns por não ser o que buscavam e avançar mais rapidamente outros por ser o que precisavam, pelo que muitas noites no fim do trabalho, ia servir bebidas a casa dos melhores clientes, ganhando assim uns trocos extra, que mudar de árbitro para outro modo de vida tem desvantagens, depois de um deste domicílios e cansado disse: Esta vida já não dá vou ter que mudar.
Quando voltava a casa no seu último dia na fonoteca, sentiu no ar um agradável cheiro a pão recém cozido, ainda não se tinha apercebido que existia ali uma padaria, bateu à porta e apareceu-lhe um jovem que lhe perguntou: Distinta senhora ao que vem? Jocas respondeu o cheiro do seu pão é tão bom que meu apetite escachou, mas entre logo lhe dou cacete ainda quente, mas para bem prezar um copo de leite lhe deve juntar, deixemo-nos de palestra vamos a embocar, dando-lhe o dito, ele empanzinou até se atulhar, ficou de tal modo regalado que pediu ao padeiro para ficar ali e aprender a nobre arte, o outro vendo ali uma fonte de rendimento retrucou, podes sim ficar, mas por noite só um cacete te vou abonar, se quiseres repisar, vais ser tu a trovar para grande ele ficar, te atestar e mitigar, agora é ouvir cantar bem alto entre amassa duras, depois de sovado, bem amanhado e de ao quente ir, de ti vou sair, se quiseres atestar a mim podes vir deprecar, para te pascer, pois com tão grande e distinto sustento não precisas de fermento, falamos de um produto confeccionado à base de farinha, não de outra coisa seus tratantes.

terça-feira, setembro 19, 2006

RINO

Rino, mancebo em idade militar, como qualquer jovem da sua idade usa gel no cabelo, roupa larga, pingentes por tudo quanto é sitio e pratica um desporto muito em voga, acerta no boche, espécie de saco utilizado pelos praticantes de boxe, depende dos Pais para tudo quanto é necessidade porém não deixa de usar o último grito da moda seja no vestir, calçar ou usar, a tal ponto que a pobre da Mãe, para sustentar todos os vícios do menino, para além de trabalhar arduamente em dois empregos, viu-se na necessidade de arranjar um terceiro, por seu lado o Pai, que trabalha por turnos em dois lados, acompanhando a decisão da mulher arranjou mais uma ocupação, perguntarão e então do resto não fala, o que farão estes ditosos Pais para acompanhar o desejo consumista do adorado filho, mas falamos de Rino não de seus Pais a alusão a eles é só para se perceber que ele não vive sozinho, tendo por isso quem o guie na vida ou não, este menino orgulho de seus Pais, já chumbou em tudo quanto é curso da escolaridade obrigatória e não só, quedou-se pelo 8º ano, por falta de vocação, pretende ser picheleiro, não é nenhuma asneira, apenas uma profissão muito digna que o apogeu do plástico veio destronar, mas não consegue arranjar mestre, na busca incessante de aprender a profissão percorre tudo quanto são bairros na vizinhança e não só.
Numa das suas visitas ouviu um barulho que lhe parecia de bateria de tão metálico e harmonioso, procurou encontrar a origem de tal melodia, parou perto de uma porta pequena com um aspecto muito velho, vinha lá de dentro o som pelo qual se encantou, bateu então ao ferrolho o som parou, de dentro uma voz gritou: quem sois? Eu sou o Rino que aqui na porta lhe veio zombar, para o som escutar, pois bem meu rapaz, responde-lhe a voz, faz favor de entrar, aqui podes tu bater para aprender a profissão, toma porém atenção que a tua mão deve ser, leve como uma pena, mexer de cima para baixo com precisão, sem perder o compasso e com pouca agitação, continuando até acabar a função, no fim de bem bateres, para ficar na perfeição um pouco de unto terá a tua mão, e se melhor malhares outro tanto se lhe vai juntar até por fim já nem uma gota deitar, o latoeiro referia-se a um liquido que é usado para impedir que as pancadas do martelo fiquei marcadas na peça quando está a ser executada, que se segura numa das mãos enquanto a outra vai batendo na chapa.

BATOCA

Batoca, assim designada por ser bem alinhavada, no seu talhe, grandes plastrões, circundados por uma quantidade de adiposa gordura, bimbas altamente pronunciadas, e uma voz que assusta o mais raivoso toiro quando este tenta investir, torna-se rábida quando não lhe cevam as intenções, estava ela debruçada sobre um problema relacionado, com a possível existência de um híbrido resultante do cruzamento de uma chica com um trigueiro calino, até já tinha utilizado todos os motores de busca existentes no espaço intranet e na própria Net, quando lhe toca aquele aparelho que permite utilizar a voz, para expressar petições ou pedir esclarecimentos entre outros, abespinhada retruca bom dia fala Batoca e não quero ajuda-lo, do outro lado um vozeirão responde, vede bem o que dizeis pois quando atendeis não conheceis, quem tão mal recebeis, ouvido isto a criatura responde no mesmo tom, quem sois eu bem sei, se assim lhe falei é porque aproveis e cortou-lhe o dito pio.
Nos dias em que a onda lhe colhe os movimentos assenta o seu posterior na cadeira, não saindo dela até que chegue a hora de ufanamente se dirigir para casa, é vê-la a pavonear as bimbas estrada fora, aqui vou eu que este já se foi e o que vier melhor me será, mantêm uma relação de proximidade com uma vizinha, dela obtêm informação sem precedentes da colónia de sebáceos, que resolveu proteger, diligentemente recolhe comida para os alimentar, fazendo publicidade deste seu generoso acto a tudo quanto é bicho de contas, espera obter dividendos desta sua acção, borlas para ela não, tudo tem um preço, ufana não se dirige a qualquer pessoa sem primeiro fazer alarde da sua condição, tornando claro que só o faz porque é rigorosamente obrigada a isso, usa ditongos em lugar de substantivos, o que transforma a sua expressão oral digna de um programa de rir por encomenda, foi a um concurso de televisão de seu nome minta e ganha, o prémio é tentador uma caixa de sabonetes de colónia especialmente feitos para a ocasião, perguntaram-lhe: Qual o vegetal que ao ser cortado provoca uma irritação no globo ocular? Pergunta ela: Globo do cu dar, mas o que é isso? Em minha casa não se diz ordinarices ora não queira lá ver, prega um valente tabefe no apresentador, perdendo dessa forma o prémio, rematou: perguntou, resposta logo levou se não gostou o jogo acabou.

segunda-feira, setembro 18, 2006

FESTA

Hoje é dia de festa na minha aldeia, longe do ruído doutros tempos, aguço a memória, lembro-me de como era concorrida, num dia como o de hoje eu não estaria fechado em casa, na época os motivos de diversão praticamente não existiam a nossa existência decorria com a monotonia própria do lugar, era nos dias da festa que se procurava encher o saco para todo o ano, era gente aos magotes vestida em tons alegres, a rivalidade entre terras era acesa, neste momento o gravador da minha mulher irrita-me com o som que debita, tenho vontade de o partir, por perturbar o meu silêncio, mas a vida é assim, ela gosta eu tenho que respeitar, coexistência pacifica, mas voltemos à festa que me remete para a infância, nunca fui um grande apreciador de estar só a ver, gostava mais de envolver-me com o que estava por detrás dela, sentia um prazer muito grande depois de vender uma rifa da tômbola, voltava para entregar o prémio ao vencedor, com isso procurava extorquir-lhe mais dinheiro para ele comprar outra, não me apercebia sequer qual seria o destino a dar ao lucro dos festejos, não me interessava, queria apenas andar de mesa em mesa a abordar as pessoas para elas comprarem, sentia um prazer muito grande.
O afastamento da aldeia numa idade muito tenra fez-me perder a ligação a coisas tão simples, anos mais tarde voltei, diz-se que um bom filho à casa torna, eu julgo-me um bom filho apesar da minha maneira de ser e estar, não sou perfeito, mas não desejo mal a ninguém, quando gosto manifesto-o, o contrário quantas vezes calo, para não magoar ficando eu magoado, alturas há em que penso, não me desculpam pelo facto de ter partido em busca de um futuro diferente do deles, mas por ele sacrifiquei muita coisa, senti na pele talvez como poucos a sensação de ser estrangeiro dentro e fora do seu espaço, quantas vezes chorei a minha solidão senti vontade de voltar, mas só o fiz quando a minha razão me aconselhou, lá fora ganhei força para enfrentar situações hostis, sem alardes vou reconquistar o meu lugar, sem esperar nada em troca, para já digo presente quando solicitado, não tomo a iniciativa de me oferecer, podem pensar que estou a impor-me, guardo-me para mim, é um acto egoísta, mas eu gosto de mim.

FLOU

Flou, inspirada numa personagem de ficção transposta para uma série de televisão, tal como ela gosta de variar o seu aspecto, espanta por onde passa, seja pela forma como carda o seu cabelo, o indumento que usa ou o modo como se meneia, tal o empenho que sempre usa nas suas migrações, quando estas acontecem é normal o alvoroto que se gera à sua volta, acabam sempre por ocorrer distúrbios que justificam a intervenção das forças da ordem, que por via disso não podem acorrer a assaltos que relacionados ou não com ela acabam sempre por suceder, está já em curso uma investigação que por falta de meios vai andando conforme pode, para apurar os factos da possível relação entre as saídas dela e os acometimentos, esta pérola da natureza representa a harmonia perfeita, entre o ser e o parecer, ora abalizada e entufada se de feição lhe corre a vida, ou bem envergada se mal corre, é celsa a expressão que usou quando buscada acerca da sua viseira, para me entreveres teus olhos deves fender, pois aqui o que prevês não tem porquês, se o Sol alto vai de casa vou eu sair, e quando a Lua se chega tenho outro sentir.
Não são conhecidas as razões que levam Flou, a peregrinamente suportar as agruras que decorrem da sua existência pois é feliz no tálamo, trabuca não lhe falta apesar de já há muito ter cortado relações com ele, manduca também não, apenas sente a falta de um boneco, oferta da sua tia madrinha, que lho trouxe da feira do Relógio e não de Bruxelas como lhe tinha dito, que ela num rasgo de amargura resolveu queimar por se sentir enganada, ao descobrir a origem pouco distinta do já referido, não poderia continuar a manipular tal entretenimento agora que lhe conhecia a história, a saudade do penetra, nome que lhe tinha atribuído, levou-a a procurar substituto, foi encontra-lo reluzente na montra de uma loja, que já julgava fechada depois das repetidas queixas dos vizinhos, tal o alarido da mulherio que ávida de possuir o entala, não deixava de se mimar com os mais deliciosos ditongos da língua portuguesa e não só, quando não conseguia almejar a compra de tão útil utensílio, sem filas, sim não bichas, lá estava ele ao alcance da sua mão, entrou abriu o porta moedas e sem hesitar comprou aquela figurinha em forma de menino que tão grande ajuda lhe prestava a abrir garrafas em dia de festa, pensaram noutra coisa, seus malandros.

sexta-feira, setembro 15, 2006

ULFA

Ulfa mulher jovem de aparência frágil, apesar do aspecto angelical denota uma tenacidade brutal, quando confrontada com uma situação injusta, as causas perdidas são uma fonte de inspiração para ela, um destes dias enfrentou uma dura batalha contra uns moncos que teimosamente se lhes atravessavam entre o nariz e a boca, foi tal a guerreia que resolveu soltar o cabelo para a face, normalmente usa-o preso de lado nas têmporas, para que não a impeçam de ver, exibindo deste modo um ar de mulher fatal que dificilmente se descobriria nela. Discreta por natureza, esconde-se num silêncio que por vezes parece lunático, é difícil quantificar as regras a que se impõe, são tantas que seria necessário abater toda a floresta Amazónica, para existir quantidade suficiente de papel paras as enunciar, as mais curiosas de todas são: aquela que a obriga a fazer dieta apesar de extremamente magra, outra tal como um relógio ela obriga-se a diariamente efectuar uma marcha para se deslocar de casa até ao trabalho e vice-versa, não contente durante a caminhada conta tudo quanto são sonsas para assim estabelecer se a colónia deste animais está em vias de extinção.
Cansada de tanta regra a que se tinha imposto decidiu abolir algumas, afinal temos que viver, passou a beber chá em copo usando sempre a sua mão direita para depois de bem mexido o açúcar, que não usa, o começar a beber, neste período o telefone não deve tocar, iria interromper a sua meditação, nestes momentos pensa na influência da paparoca no comportamento das sagazes, espécie que tem prosperado, afinal a sua acção consegui fazer promulgar a Lei que obriga à sua protecção, a sua paixão por aves é uma bandeira que iça com toda a sua força, possui uma colecção imensa de cromos sobre este tema, viu-se recentemente forçada a leiloar todos bens, triste passa os dias com saudades dos tempos em que o céu era azul, a água transparente, as florestas tropicais tinham chuvas ácidas e as sagazes estavam em vias de exterminação na zona, resta-lhe o velho berço companheiro do seu sono de criança, do qual não conseguiu desfazer-se, por estar na família há muitas gerações, afinal as aves voam, as pessoas passam, mas os sentimentos ficam, o berço fica tudo o resto vai, é a minha opção, respondeu Ulfa no leilão sem qualquer hesitação quer queiram ou não, não aceito outra solução.

RESPIRO

Preciso de respirar mecanicamente faço o movimento habitual de sugar o ar pelo nariz, sinto o ar a entrar pelo narinas, respiro, um odor percorre a sala, mistura de perfumes e mofo, falta de uma limpeza convencional, a higiene no local de trabalho não está assegurada, é mais proveitoso atribuírem-se subsídios para festas, festinhas e festarolas só para fazer divulgação das pretensas obras e dos apoios que o município dá, mas mais divertido que isso é observar a quantidade de pessoas que amontoaram numa sala a saber em número superior à sua capacidade máxima, sob pretexto de organizar, mas o quê, como se pode desempenhar tal tarefa, se nem um horário se sabe cumprir.
Eu até sou adepto da máxima liberdade, no entanto tem que necessariamente existir um certo equilíbrio entre as diferentes pessoas de um mesmo sector, o meu desporto favorito é a maratona, nela o esforço tem que ser doseado a prova é longa, exige concentração, muito treino, sobretudo força intelectual, para vencer a forte vontade de deixar a prova a meio, neste campo só os bravos sobrevivem, aqui neste campo de batalha, só por cunhas conhecimentos ou parentesco se pode almejar o triunfo, mas em cada esquina do percurso desta prova dura existe sempre alguém, que nos dias de calor, solicitamente nos refresca com água é o suficiente para recobrar o fôlego e com um esforço final vencer a prova.

CRESTO

Cresto, homem pouco dado a falas é proprietário de uma vasta quinta denominada Cerro, ao contrário do seu nome não perde uma oportunidade para fazer jus à sua condição de reprodutor, tudo marcha em tempo de guerra ou paz, o seu apetite voraz está sempre pronto a tudo ingurgitar, pouco lhe importa se é carne ou peixe desde que passe ao alcance da sua rede, ele fila e degluta, foi numa altura em que ele andava meditabundo, após uma grande cilícia que a vida lhe açulou, que enfastiado resolveu banhar-se na lagoa da quinta, hábil nadador procurou na natação a solução para a sua lazeira, fazia tempo que não lançava a labrega começando já a sentir um certo alvoroto no metabolismo, a água fria fez intumescer o seu tegumento tributando-lhe um ar de mirão, cansado resolveu parar deitando-se na margem a secar, o sol lambia-lhe o corpo, os trinta anos faziam o seu sangue pulular nas veias, sem rodeios o que era frio transformou-se em calor.
Estava ele naqueles aviamentos, determinado a por si só saciar a sua indigência, quando uma voz lhe segredou, com tão lindo atavio eu aqui já te alinho, dito isto deitou-lhe a mão, foi tal a avidez que Cresto pensou que ali mesmo acabaria a sua função, afinal estava na sua propriedade, ninguém poderia queixar-se por ele deitar mão a tão boa manja, foi de tal modo a função que ele só parou quando a febra se encimou, esta de tão aviada fugiu, ele que estava no seu período retráctil, tendo os olhos cerrados, preparava-se para recomeçar a dança, tacteou o espaço à sua volta nada topou, mas onde estás que tão bem me proveste e agora azulaste, por certo não te cevaste ou se fraco foi meu desempenho, eu outra vez te amanho, volta aqui meu anho que eu teu amo te ordenho, de tão irado que ficou num salto se alçou, correndo procurou quem tão bom labor lhe estivou, nada topando pensou: foi o sol que me cevou e a cabeça me azougou, sentiu então sussurrar, olha tu que me ataviaste, tão bem me prestaste, mas por certo não pensaste, que depois de tal repasto eu trinasse, por ora estou tão opada, que nem por nada, me quero ver emaçada entre teus talentos, talvez volte a usar teu engenho para safar meus anseios, mas agora não maganão, faz teu trabalho à mão, para melhor te secares assim te vais presumir e depois te eximires por em mim não te cobrires, falou-se da toalha que a água molhou.

terça-feira, setembro 05, 2006

FOGO

Fogo palavra que tem vários significados, pode ser a casa de qualquer um de nós, pode ser aquele que controladamente nos aquece no Inverno, pode ser o que faz arder a paixão, mas este que sem controlo devora fauna e floresta não, ecoa o som das sirenes dos carros de bombeiros o céu esta coberto por fumo, na esperança de o apagar ouve-se o som de um helicóptero, de uma cor azul, tal pássaro eleva-se transportando uma certa quantidade de água preciosa para debelar as chamas, não desejo mal a ninguém mas senti revolta com este acontecimento, se foi mão criminosa, espero que a justiça de Deus se faça sentir, Ele melhor que ninguém sabe o que se passa no coração de quem largou este fogo, se foi o caso, a justiça Divina irá saber como proceder, espera-se de um Pai, que seja justo e complacente, Ele tem o dou de mesmo nas horas menos felizes de cada um de nós, estar de longe a observar e de depois actuar conforme for necessário, a justiça dos homens encontra sempre formas de protelar é incapaz de ser célere, é fácil deixar apodrecer um anónimo na cadeia, julgar um rico ou famoso é mais difícil, há sempre um advogado que fará todas as manobras dilatórias para que o caso não seja julgado. Quanto tempo irá demorar a sarar esta ferida, quando estiverem esgotados os recursos naturais deste planeta Terra, o que será desta civilização, teremos condições para continuar a existir com as actuais características ou simplesmente sofreremos uma mutação para nos adaptar-mos ao meio, não sou cientista não posso responder, mas assalta-me essa preocupação, quando isso acontecer terei algures um descendente meu, como será ele? Poderão os seus Pais protegê-lo se for de tenra idade ou será ele a proteger os Pais se já estiver na idade adulta ou simplesmente a sobrevivência de uns implicará a destruição dos outros, o que terá mais peso? No modus vivendis desta sociedade actual, não existe lugar para os idosos, já não são necessários para levar os netos ou bisnetos à escola, reformados sem nenhuma ocupação arrastam os seus dias entre a cama e o sofá, já não lhes arde o fogo como antigamente, esperam pacientemente que alguém chegue com um sorriso, ou então desejam, de tão cansados que estão, que a morte venha retirá-los da miséria em que muitos vivem.

segunda-feira, setembro 04, 2006

CERRO

A Quinta do Cerro deve o seu novo nome a um escravo trazido por um marinheiro, que tomou parte na expedição de Pedro Alvares Cabral, aquando da descoberta do Brasil, por ao lhe ser dada uma ordem para serrar os ditos de um animal de quatro patas destinado ao amanho da terra, retorquiu, patrão, animal grande, escravo pequeno, eu ter medo não cerro não, ao não ter executado a ordem que lhe deram, salvou o bovino de uma vida enfadonha, libertando-o para vaguear nos campos sim fim da propriedade, julga-se que os toiros bravos hoje utilizados nas corridas de toiros, tem origem neste e numa vaca que entretanto fugiu, por isso nos primeiros tempos existiram fenómenos de consanguinidade, ao verificar isso, o proprietário de seu nome Chacra, resolveu mandar soltar mais uns quantos animais para regenerar a raça, descobriu-se a mestria destes animais para as corridas, quando um dos servos tomado de uma súbita vontade de baixar as calças, para satisfazer as suas precisões, foi apanhado com as ditas em baixo levando uma cornada onde começam ou acabam as costas conforme quiser dizer.
Actualmente é propriedade de um certo Cresto, que sem possuir as qualidades do seu distante antecessor, herdou-a mantendo a actividade agrícola e criação de gado bravo, até que os constantes protestos das organizações ecologistas por causa da emissão de gases dos animais o levou a acabar com ela, possuindo um imenso solar com os tempos difíceis que decorrem resolveu transformá-lo num espaço para turismo de habitação, fez as necessárias obras devidamente licenciadas pagando por isso ao município mais do que aquilo que seria de esperar, colocou um anúncio na net, calmamente ficou sentado no alpendre aguardando o seu primeiro cliente, tal foi a obsessão que ele durante seis meses não saiu do lugar, era vê-lo dia e noite no seu posto, tal guarda que vigia um preso, não logrou nenhum cliente, como já não podia suportar as moscas que entretanto lhe faziam companhia, foi tomar um banho a uma lagoa que existe na propriedade, estava nestes preparos quando ouviu assobiar, descortinou uma sombra no arvoredo, vinha mesmo a calhar precisava de quem lhe lavasse as costa, chamou: quem por bem vem pode-me lavar as costas, responderam-lhe, isso e não só, tudo faço para lhe agradar, vou começar a esfregar.

sexta-feira, setembro 01, 2006

CONDES

Os condes de Lagoa distinta família da alta burguesia da época, assim chamados por um ascendente seu de nome Ranha ao serviço do rei D. Dinis ter caído de uma escada abaixo, bajando com toda a sua pululância numa lagoa, aonde habitavam dois albípedes que de tão assustados, guindaram as asas com tal virescência, que arrojaram consigo dez pujantes sarracenos para além dos vinte que deixaram desapossados por terra, el-rei ao ver tal feito de longe atribuiu-o ao Ranha, ali mesmo o nomeou conde da Lagoa, dizendo-lhe: Aqui te faço conde mas vê lá onde te pondes, por não perder querer, todos os monteses que nestas chãs jactanciosas por nós dos mouros chuchadas ao meu reino adscritas, dito isto ordenou ao almocreve que elaborasse uma carta de alforria para que o novo conde tomasse conta daquelas mundas e do cofre real retirasse uma dobra de ouro para ele, mais disse que os jograis deviam anunciar em todo o reino o feito do conde.Ranha que até ai era um campónio ao serviço de um lorde, mandado por este ajuntar-se à demanda do rei, viu-se nomeado conde e com uma dobra, não sabendo o que fazer dela, pois até ai só tinha visto enxadas, agora na guerra vara paus, se bem pensou melhor o fez, como ainda não existia roupa interior como hoje, resolveu chamar o alfaiate real para este lhe fazer uma bolsa para esconder a dobra, macaco o estilista disse-lhe senhor condes bolsas não faço, mas sim vestes dignas da sua posição, pois as suas vestes nem de vilão são, Ranha olhando para as suas vestes andrajosas notou, não eram dignas de um conde ele tem razão, perguntou-lhe então, mas quanto me vai custar tal trajar, ele tirando-lhe as medidas com rigor e precisão, sem qualquer hesitação respondeu-lhe o passarão: quero dizer-lhe senhor conde, que depois de bem medir e de tudo calcular, saiba sua senhoria que do pagar não tem que se preocupar, se comigo for amalhar e por bem achar usar o que consigo sempre trás, o alfaiate referia-se ao ditado que diz em campo de batalha tudo marcha, esperou a resposta do Ranha que pronta chegou, olhe lá seu mangão, que do uso que eu faço ao que tenho na mão, mando eu você não, mas por tão afilada trajadura vou cometer uma amência, fazendo uso da decência, farei tal incumbência, assim usou o vara pau sacudiu o pó que se tinha formado, deixando o alfaiate engastado.