terça-feira, setembro 26, 2006

INGRIA

Ingria, de origem belga, viveu em Luanda até que a independência daquele País a fez vir para Portugal, fala fluentemente várias línguas não as aplica, o casamento com um influente político obriga-a a passar os dias numa completa lazeira, para quebrar o tédio tem uma agenda social muito preenchida, são compras nas melhores lojas de Paris onde vai pelo menos uma vez no mês, chás de caridade e outras coisas tais, como se encontra muito ocupada, com uma imensa falta de dinheiro, para além de guarda costa pago por todos nós, tem empregada de dentro, outra de fora, cozinheira, jardineiro e o seu inseparável mordomo, mora num palacete ali para os lados da Quina, edificação do século XVI, herdado pelo Pai, descendente directo do Intendente Pina Manique, a habitação é um deslumbramento, sobretudo à noite com os seus jardins bem iluminados, uma fonte de receita extra, que ela utiliza para fazer face às despesas com o treino da cadela piche anã, já várias vezes metralhada em provas nacionais e internacionais.
Mas as recentes jornadas do partido, em que o esposo não milita mas pelo qual foi eleito como independente, determinou que todos quantos não militavam na causa, fossem afastados de qualquer actividade, não o afectava uma vez que tinha sido eleito, mas pelo sim pelo não, fez com que ela adoptasse um estilo de vida diferente, passou a trabalhar numa empresa de limpezas onde desempenha o lugar de assessora do dono, que por acaso até tem um contrato com o órgão em que o marido trabalha, para além doutros nos diferentes lugares onde os capangas ocupam posições, num dia de inspecção por acaso ao local de trabalho do seu adorado esposo, Ingria ao verificar o estado de limpeza do recipiente de papeis usados, notou que no fundo deste estava algo a brilhar, era nada mais nada menos do que a prova que ela necessitava para justificar as longas noites de serão do seu idolatrado, ávida de recolher a prova do crime, baixou-se o chão escorregadio conjugado com a acção da força da gravidade, fez com que ela perdesse o seu ponto de gravidade estável mergulhando dentro do caixote, lá bem no fundo estava finalmente o indício, uma embalagem suja de um restaurante de pronto a comer, pensaram que era outra coisa, ai essas mentes a pensar que a senhora tinha um par dos ditos como aqueles animais que trabalham na beira.