sexta-feira, setembro 15, 2006

CRESTO

Cresto, homem pouco dado a falas é proprietário de uma vasta quinta denominada Cerro, ao contrário do seu nome não perde uma oportunidade para fazer jus à sua condição de reprodutor, tudo marcha em tempo de guerra ou paz, o seu apetite voraz está sempre pronto a tudo ingurgitar, pouco lhe importa se é carne ou peixe desde que passe ao alcance da sua rede, ele fila e degluta, foi numa altura em que ele andava meditabundo, após uma grande cilícia que a vida lhe açulou, que enfastiado resolveu banhar-se na lagoa da quinta, hábil nadador procurou na natação a solução para a sua lazeira, fazia tempo que não lançava a labrega começando já a sentir um certo alvoroto no metabolismo, a água fria fez intumescer o seu tegumento tributando-lhe um ar de mirão, cansado resolveu parar deitando-se na margem a secar, o sol lambia-lhe o corpo, os trinta anos faziam o seu sangue pulular nas veias, sem rodeios o que era frio transformou-se em calor.
Estava ele naqueles aviamentos, determinado a por si só saciar a sua indigência, quando uma voz lhe segredou, com tão lindo atavio eu aqui já te alinho, dito isto deitou-lhe a mão, foi tal a avidez que Cresto pensou que ali mesmo acabaria a sua função, afinal estava na sua propriedade, ninguém poderia queixar-se por ele deitar mão a tão boa manja, foi de tal modo a função que ele só parou quando a febra se encimou, esta de tão aviada fugiu, ele que estava no seu período retráctil, tendo os olhos cerrados, preparava-se para recomeçar a dança, tacteou o espaço à sua volta nada topou, mas onde estás que tão bem me proveste e agora azulaste, por certo não te cevaste ou se fraco foi meu desempenho, eu outra vez te amanho, volta aqui meu anho que eu teu amo te ordenho, de tão irado que ficou num salto se alçou, correndo procurou quem tão bom labor lhe estivou, nada topando pensou: foi o sol que me cevou e a cabeça me azougou, sentiu então sussurrar, olha tu que me ataviaste, tão bem me prestaste, mas por certo não pensaste, que depois de tal repasto eu trinasse, por ora estou tão opada, que nem por nada, me quero ver emaçada entre teus talentos, talvez volte a usar teu engenho para safar meus anseios, mas agora não maganão, faz teu trabalho à mão, para melhor te secares assim te vais presumir e depois te eximires por em mim não te cobrires, falou-se da toalha que a água molhou.