segunda-feira, setembro 04, 2006

CERRO

A Quinta do Cerro deve o seu novo nome a um escravo trazido por um marinheiro, que tomou parte na expedição de Pedro Alvares Cabral, aquando da descoberta do Brasil, por ao lhe ser dada uma ordem para serrar os ditos de um animal de quatro patas destinado ao amanho da terra, retorquiu, patrão, animal grande, escravo pequeno, eu ter medo não cerro não, ao não ter executado a ordem que lhe deram, salvou o bovino de uma vida enfadonha, libertando-o para vaguear nos campos sim fim da propriedade, julga-se que os toiros bravos hoje utilizados nas corridas de toiros, tem origem neste e numa vaca que entretanto fugiu, por isso nos primeiros tempos existiram fenómenos de consanguinidade, ao verificar isso, o proprietário de seu nome Chacra, resolveu mandar soltar mais uns quantos animais para regenerar a raça, descobriu-se a mestria destes animais para as corridas, quando um dos servos tomado de uma súbita vontade de baixar as calças, para satisfazer as suas precisões, foi apanhado com as ditas em baixo levando uma cornada onde começam ou acabam as costas conforme quiser dizer.
Actualmente é propriedade de um certo Cresto, que sem possuir as qualidades do seu distante antecessor, herdou-a mantendo a actividade agrícola e criação de gado bravo, até que os constantes protestos das organizações ecologistas por causa da emissão de gases dos animais o levou a acabar com ela, possuindo um imenso solar com os tempos difíceis que decorrem resolveu transformá-lo num espaço para turismo de habitação, fez as necessárias obras devidamente licenciadas pagando por isso ao município mais do que aquilo que seria de esperar, colocou um anúncio na net, calmamente ficou sentado no alpendre aguardando o seu primeiro cliente, tal foi a obsessão que ele durante seis meses não saiu do lugar, era vê-lo dia e noite no seu posto, tal guarda que vigia um preso, não logrou nenhum cliente, como já não podia suportar as moscas que entretanto lhe faziam companhia, foi tomar um banho a uma lagoa que existe na propriedade, estava nestes preparos quando ouviu assobiar, descortinou uma sombra no arvoredo, vinha mesmo a calhar precisava de quem lhe lavasse as costa, chamou: quem por bem vem pode-me lavar as costas, responderam-lhe, isso e não só, tudo faço para lhe agradar, vou começar a esfregar.