sexta-feira, setembro 01, 2006

CONDES

Os condes de Lagoa distinta família da alta burguesia da época, assim chamados por um ascendente seu de nome Ranha ao serviço do rei D. Dinis ter caído de uma escada abaixo, bajando com toda a sua pululância numa lagoa, aonde habitavam dois albípedes que de tão assustados, guindaram as asas com tal virescência, que arrojaram consigo dez pujantes sarracenos para além dos vinte que deixaram desapossados por terra, el-rei ao ver tal feito de longe atribuiu-o ao Ranha, ali mesmo o nomeou conde da Lagoa, dizendo-lhe: Aqui te faço conde mas vê lá onde te pondes, por não perder querer, todos os monteses que nestas chãs jactanciosas por nós dos mouros chuchadas ao meu reino adscritas, dito isto ordenou ao almocreve que elaborasse uma carta de alforria para que o novo conde tomasse conta daquelas mundas e do cofre real retirasse uma dobra de ouro para ele, mais disse que os jograis deviam anunciar em todo o reino o feito do conde.Ranha que até ai era um campónio ao serviço de um lorde, mandado por este ajuntar-se à demanda do rei, viu-se nomeado conde e com uma dobra, não sabendo o que fazer dela, pois até ai só tinha visto enxadas, agora na guerra vara paus, se bem pensou melhor o fez, como ainda não existia roupa interior como hoje, resolveu chamar o alfaiate real para este lhe fazer uma bolsa para esconder a dobra, macaco o estilista disse-lhe senhor condes bolsas não faço, mas sim vestes dignas da sua posição, pois as suas vestes nem de vilão são, Ranha olhando para as suas vestes andrajosas notou, não eram dignas de um conde ele tem razão, perguntou-lhe então, mas quanto me vai custar tal trajar, ele tirando-lhe as medidas com rigor e precisão, sem qualquer hesitação respondeu-lhe o passarão: quero dizer-lhe senhor conde, que depois de bem medir e de tudo calcular, saiba sua senhoria que do pagar não tem que se preocupar, se comigo for amalhar e por bem achar usar o que consigo sempre trás, o alfaiate referia-se ao ditado que diz em campo de batalha tudo marcha, esperou a resposta do Ranha que pronta chegou, olhe lá seu mangão, que do uso que eu faço ao que tenho na mão, mando eu você não, mas por tão afilada trajadura vou cometer uma amência, fazendo uso da decência, farei tal incumbência, assim usou o vara pau sacudiu o pó que se tinha formado, deixando o alfaiate engastado.