Num normal dia de férias procura-se tranquilidade, quebrar a rotina do dia a dia, pois foi isso mesmo que aconteceu, acordei tão cedo quanto o normal, era necessário ir às compras, sim mesmo em férias é necessário abastecer a máquina com proteínas vitaminas sais minerais e outras coisas mais, assim fui deambular pela praça, em busca daquele peixe super fresco, que de tão fresco ainda nos salpica a cara com a água salgada do mar, o mar ainda é salgado e o peixe pescado no mar ainda transporta esse aroma de água salgada, pois o odor próprio do peixe faz-me náuseas, depois da volta rápida decidiu-se por douradas e lulas, metidos que foram os peixes em dois sacos de plástico para não libertarem cheiros, lá fui em busca de fruta, comprados que foram pêssegos, uvas, e coentros que não é fruta mas sim um vegetal, diz-me a minha patroa, quando chegar-mos a casa o peixe terá algum defeito, rumamos no carro em direcção a casa, chegados, poisados que foram os dois sacos com as compras, começou a peça de teatros em vários actos, cenas ou quadros, conforme lhe queiram chamar. Volta-se a matriarca da família, qual leoa enfurecida, que peixe é este que não é fresco e que cheira a podre? Podre não é fresco, responde a cria da leoa, isto vai aquecer disse para mim, recordando os acalorados diálogos travados noutras ocasiões entre as duas leoas, num súbito movimento das suas vozes percebi que a zanga era feia e que os insultos estavam a subir de tom, não pensem que eram do tipo português calão que se houve nas habituais discussões, era mais o estilo gótico, que eu não identifico bem mas palavrões não, mais não é boa mãe, não és boa filha apesar da minha idade ainda te dou dois estalos, ai dá, então está aqui a cara pode dar, força, mas dê? Foi tal o alvoroço que a vizinha intrometida do terceiro andar, foi colocar-se de balcão a ouvir o espectáculo, não consegui controlar o tempo em que este algaraviado de palavras e atitudes se foi desenrolando, só me lembro de um momento em que estou a empacotar tudo e a carregar para o carro, com despedidas de, os outros é que são bons que nem à porta se chegam e eu não presto, quando precisar chame que eu estou cá, não vou chamar nem mesmo depois de morta, entre outras, carro em marcha era preciso dizer adeus aos outros membros da família, lá fomos, mal chegados aos últimos a dizer adeus, já este sabiam da novela que se tinha desenrolado bem cedo nessa manhã, a tua mãe ligou a dizer que estava mal, disse a outra cria da leoa, as manas leoas apesar de filhas do mesmo casal de leões, à muito tempo que falam na terceira pessoa quando se trata dos Pais.
Temos que voltar para ver o que se está a passar, diz-me a leoa, lá dou meia volta ao carro e a vizinha continuava no seu sítio para assistir à grande final, aberta que foi a porta a leoa mãe disse: vai dizer adeus ao teu Pai que ele diz que te mandas-te e nem água vai, responde a outra mas eu ia embora sem dizer adeus ao Pai, começou nova cena, eu retirei-me estrategicamente para os bastidores não pretendia ser actor naquele drama, tal como a nação helvética em tempos da segunda guerra mundial, procuro manter-me neutro em relação aos assuntos da família, mesmo que isso represente para mim engolir cobras e lagartos, já se vai tornando um habito, não fizeram costura no meu saco assim ele não consegue reter nada, isso na sua face exterior, no interior é que está o problema, de cada vez que acontecem estas trocas de mimos, a minha angustia aumenta e com ela uma vontade de contra ventos e marés erguer velas e partir, em busca de alguma tranquilidade nestes tempos de férias, tenho um local secreto, acessível a todos mas desconhecido por muitos, é lá que eu encontro refugio para a minha desilusão, mas neste sábado em que nem o habitual telefonema da sobrinha, para saber se a filha comeu bem ou mal, pois faz jeito enquanto os tios aqui estão despejar a miúda, que não sabem educar, conseguiu aquecer um almoço frio e bastante salgado, tens que mais uma vez comer e calar, tudo em nome da santa felicidade e da harmonia, que férias mais descansadas, como não poderei sentir prazer com esta pausa maravilhosa passada à beira mar, mais tarde irei recordar estes tempos com imensa saudade, lamentar que a crescente perda de poder de compra, me impeça de voltar para este maravilhoso lugar, melhor que Kathmandu o local de eleição para a viagem dos meus sonhos, enquanto existir sol e vento não há nada que me enfrente, donde chegou esta súbita coragem de tudo enfrentar desconhecia que ela se pudesse revelar, logo agora numa situação de crise, já antes passei por outras situações e calei-me com medo da reacção dos outros, assustado com as consequências das minhas atitudes, será que qual conquistador estou á descoberta de novas terras, quem sabe desbravamento novos caminhos nesta busca de finalmente poder sentir que estou infeliz.