segunda-feira, agosto 28, 2006

IMAGEM

Tenho nos olhos aquela tristeza de quem se sente só, no corpo carrego as marcas de um uso inadequado, a minha voz definha de tanto gritar, já não tenho forças para continuar, de repente olho à minha volta e encontro um rosto sereno, tranquilo de alguém que pacientemente tecla tal como eu, e nesta imagem de paz encontro forças para continuar, não existem só pessoas más, o olhar constituiu muitas vezes uma forma de me acalmar de ganhar coragem para continuar com a minha tarefa, consigo vislumbrar estratégias para me defender e não me deixar mergulhar em depressão, diz-se que não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe, e que a esperança é a última coisa a morrer, por isso encontro dentro de mim muitas vezes forças que eu jamais sabia que existiam, mesmo com tudo a cair à volta e por grande que seja o meu desespero, prefiro quebrar que torcer.
Planos pouco me importa fazer planos não dependem de mim, transformaram-me numa máquina e esta não pensam executam mecanicamente tarefas rotineiras que os seus inventores lhe consignaram, existe no entanto uma grande diferença, eu consigo pensar estabelecer metas, decidir, agir quando é preciso, mas aqui onde estou isso pouco valor tem, a corrente é entrar às dez sair às cinco com duas horas para almoçar quando não se sabe sorri-se e saracoteia-se o rabo na esperança de que o nosso odioso chefe venha em nosso auxilio, ou então resolve-se de outra forma, passa-se a batata quente para quem não pode reagir por estar numa posição mais abaixo, mas esses são os verdadeiros heróis, os outros que não estão na alcateia, são contra corrente empecilhos para os seus planos de saque, voltamos a viver num regime de pirataria onde agora os piratas circulam na terra ao contrário, dos tempos de antanho em que navegavam pelos mares à procura de alguma riqueza fácil, estes os modernos buscam uma capa para a sua incompetência, escondem-se atrás de uma qualquer amizade ou laço de parentesco, são os novos executivos de pacotilha, brilhantes na arte de dissimular, que bebem dos seus chefes as águas impuras com que ingurgitam a sede, um destes dias estes seres imundos, irão defrontar-se com a triste realidade dos seus corpos cansados de tantas manobras maquiavélicas, rebentarem e expelirem toda a malícia que existe dentro deles, ai todos poderemos ver o quanto de mal nos têm feito, nessa altura, eu irei simplesmente observar, e com indiferença, continuar o meu caminho, não irei parar para contemplar o executor das suas mortes, a altura é uma coisa terrível, nela faz-se sentir com maior intensidade a força da gravidade.

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