terça-feira, agosto 22, 2006

REGRESSO

Poderei falar de um regresso muito desejado, encontrei um sol radiante, após dias consecutivos de cinzento, a luz espalhava-se pela casa revelando sombras que já há muito tempo tinha esquecido, como foi gostoso reencontrar o meu escritório naquele fim de tarde, a serra visualizava-se em todo o seu esplendor, magnifica nos seus tons de verde, parecia engalanada como as pequenas aldeias do interior em dias de festa anual. Olhei para a secretária e notei que milagrosamente se encontrava vazia, antes de partir tinha feito uma limpeza à agitação que sobre ela reinava, agora estou bem já existe muito espaço para preencher novamente, normalmente só fica assim quando no final do ano arrumo o monte de folhas de apontamentos e material de estudo a que recorro com frequência, experimentei colocar-lhe um daqueles conjuntos com mil e um objectos que servem para ocupar e nos impedem de trabalhar, desisti voltei a arrumar tudo, lembrei-me de quando me tinham oferecido aquelas coisas e de como por uma questão de delicadeza não disse nada, já passou tanto tempo, resolvi pegar em tudo e colocar no devido sitio ou seja no lixo, de regresso a casa olhei à volta na esperança de encontrar mais monos, abri armários, gavetas e mesmo na dispensa encontrei um monte de dispensáveis, reuni tudo num único espaço, decidi que como vai haver festa na aldeia oferecer tudo para a quermesse, mas esta ano não vou comprar nenhuma rifa, não quero correr o risco de voltar a ter na minha posse alguns daqueles presentes comprados, nas lojas dos trezentos ou chineses, com todo o carinho a pensar em mim e na utilidade que todos eles teriam para a minha pessoa.
Como posso ser tão mordaz em relação aos meus presentes, se eu agora também faço o mesmo, quantas vezes compro coisas para oferecer só pela obrigação de ter que dar, no passado os meus presentes eram comprados a pensar nas pessoas, levava um ano inteiro de Natal a Natal comprando uma peça aqui outra ali e em cada uma carinhosamente ia colocando o nome do destinatário, é dessa época um conjunto de castiçais que uma pessoa namorou numa loja de decoração e que não comprou porque o marido tinha um salário dez vezes maior que o meu, ou então a cadeira de baloiço que uma outra advogada ainda não tinha tido oportunidade de adquirir, ou mesmo aquele conjunto de copos cristal que alguém chegando à loja inquiriu a vendedora e esta lhe disse que estava reservado porque eram peças únicas, só que no dia seguinte quando voltei à mesma loja a vendedora aliás muito simpática, disse-me que não estava nada reservado olhe rematou, curiosamente ontem uma senhora com estas e aquelas características, esteve cá e perguntou o preço, não levou porque não ia directa a casa, estes foram os verdes anos prolongou-se até aos trinta, altura em que me cansei de em troca receber cuecas, meias, lenços de assoar que não gosto de usar, ou então bolsas para tabacos, ficou célebre aquele Natal em que eu revoltado, comprei uma montanha de cartões de boas festas, escrevendo em cada um deles um muito obrigado por todas as prendas recebidas descrevendo-as mas que dado o stock que tinha delas, neste ano não poderia aceitar mais nenhuma, conclusão ficou toda a gente muito chocada com a minha falta de espírito natalício, a partir dai deixou muita gente de me falar eu pouco me importei, continuo a corresponder com o meu melhor sorriso.