sexta-feira, julho 28, 2006

FÉRIAS

Hoje finalmente vou para aquilo a que habitualmente se chamam férias, teria necessáriamente que sentir uma grande alegria, porém já longe vai o tempo em que idilicamente sonhava com este espaço em que a única coisa que tinha para fazer era aborrecer-me por nada ter que fazer.
Agora parto para um trabalho mais intenso, ter que aturar sitios povoados de gente e com falta de estacionamento, pouco vou lucrar com este intervalo na minha vida, mas em nome do bom viver lá vou eu não para a Costa da Caparica, mas para uma outra Costa onde certamente irei encontar as mesmas cenas, cadeiras, chapeus de sol, bolas de berlim, crianças a gritar, homens gordos a dormir e areia eventualmente suja. Porém nesse espaço encontro o meu amigo mar como o comprenedo apesar dele me ralhar com as suas ondas ou noutros dias me acariciar com o seu geito sereno, nessas alturas eu que entre nós existe uma harmonia eu sinto que é bom ter um amigo fiel, nos dias em que ele se mostra mais revolto fico receoso, mas amigo não diz que sim todos os dias. Mas tem que ser tudo isto faz parte do contexto em que vivo, ainda não posso passar as férias numa montanha rodeado de ar mais ou menos puro porque o ozono anda no ar e ataca em qualquer lugar, o no lugar da montanha talvez passear numa cidade onde delicadamente todas as pessoas dizem bom dia umas às outras, mas essa cidade não existe, pois no sitio onde trabalho com uma duzia de pessoas isso não acontece como poderei desejar que numa cidade possa vir a acontecer.

segunda-feira, julho 24, 2006

MARGENS

Durante uns tempos tive a impressão de que tudo era perfeito, vivia num mundo mágico em que não existiam comparações, falo da minha primeira infância, quando descobri o valor das letras começaram os meus problemas, passo a passo fui encontrando diferentes novas formas de dizer o mesmo, era um estado de graça que cada novo livro me fazia sentir, lembro-me de um que marcou a diferença e me fez acordar para a realidade, o titulo é algo invulgar, Morte de um rato ao domingo, a partir da sua leitura tudo mudou para mim, foi uma violação directa de tudo aquilo que suportava a minha vida, apoderou-se de mim a inquietação, as paredes do meu palácio ruíram e contemplei com desagrado quanto poderia ser dura a vida fora daquela protecção, conjuguei amargamente o verbo desilusão, fiquei triste por aquela morte e sobretudo ao domingo dia em que deveria existir sempre felicidade, hoje muitos anos depois, sei que felicidade existe nos sonhos, realidade é todos os dias e é ela tal como antes que continua a violar-me, mas ao contrário de quem é violado eu não me tornei violador, canalizo o meu sofrer para as linhas que vou escrevendo, como é duro sentir na pele a violência de uma violação, por vezes desejaria gritar aos quatros ventos deixem-me em paz, não me violem, mas silenciosamente vou calando o meu grito e revejo o rol de boas intenções a que me propus, perdoa, não ligues, conta até 10 e depois novamente, respira fundo, pensa nos momentos em que sozinho pudeste apreciar o pôr do sol, ou então recorda aquela viagem, esses momentos podem servir de válvula de escape para o que te agride e viola, mas durante quanto tempo poderei continuar, não sei, mas como tudo isto terá um fim, não me preocupa qual poderá ser, apenas pretendo soltar-me e mesmo chorando, com desejo de fugir de agredir de gritar teimosamente vou continuar, não sou de aço e como tal receio que alguma fragilidade me afaste.
Como é irritante ouvir no trabalho aquela voz de cana rachada, mais conhecida por rabo torto, procurando formas de se livrar da responsabilidade, todos podem errar mas a eficiência em pessoa nunca, ou talvez sim talvez falhe e lhe tenha faltado algo, faltaram-lhe aqueles açoites que se dão às crianças quando se comportam mal, como sacode a bunda por entre risinhos de pura histeria, qual adepto quando vê o seu clube marcar um golo, ou ao ouvir o cantor pelo qual morre de amores, numa palavra só, lixo, lixo é assim que espanto aquela bruxa má saída do pior conto de terror, neste preciso momento quis partir tudo à minha volta os sons que oiço em casa fazem-me sentir raiva uma grande raiva desta cambada de lixo que me rodeia desta tresloucada existência que me obriga a suportar este conviver que odeio, o calor invade-me o corpo paro e penso mas o que fazer abdicar de tudo aquilo que me rodeia, serás capaz de viver como um sem-abrigo, que espera da caridade dos outros o pouco que possui, a roupa do corpo, e nalguns casos a muita sujidade que o viver na rua transporta é esse o estilo que queres, como a revolta me faz zangar, sim porque me sinto revoltado por ter sido enganado, não pedi para existir e contudo tenho que carregar este fardo de desilusão e corro para uma meta que desconheço onde está.
Pois é a felicidade não existe, mentem aqueles que dizem que sim, poderá existir alguns momentos em que esquecemos a conta da casa, água e luz entre outras, podemos então saborear o sabor de nada nos chatear, vou ter que sair para satisfazer um desejo de consumo, eu não estou com fome de juntar mais uma quantidade de inutilidades aquelas que já tenho, mas não vou sozinho, vivo sozinho apesar de acompanhado, tem que ser a envolvente assim o obriga, mas que grande chatice, mesmo com a idade que tenho ainda sou obrigado a usar máscaras, como diria alguém o que tem que ser tem muita força, e a força da gravidade puxa para baixo, obriga-nos a manter sempre um equilíbrio muitas vezes precário entre o querer e o que somos obrigados a ser.

CIGARRO

Sou fumador, confesso que me dá muito prazer fumar, principalmente porque me pressionam, para deixar de fumar em cada maço que compro, vejo a hipocrisia de quem manda, ao dizer fumar mata, mas depois venham os impostos do tabaco e das industrias de quem ele depende, quantas pessoas em todo o mundo beneficiam deste meu agora odioso hábito, quantos postos de trabalho deixarão de existir quando um dia me apetecer deixar de fumar, vou procurar na Net a relação entre um cigarro e um posto de trabalho, talvez tenha alguma surpresa, mas enquanto não o faço, rapidamente penso no valor acrescentado que o gesto de fumar trás, a saber um lucro ligeiro para o sitio em que o compro, mas conjuntamente com ele algumas vezes vai um café, mais um pouco de lucro, ora estes artigos não chegam sozinhos ao estabelecimento, neste mundo tudo tem um preço, para chegar aos postos de venda é necessária a distribuição, uma cadeia de distribuição é composta pelo retalhista, armazenista, grossista, em sintonia com esta cadeia temos a logística envolvida na tarefa de fazer chegar o cigarro aqueles que ainda gostam de fumar, com a pressa de falar do caminho do cigarro até aos fumadores ia-me esquecendo da fabrica, do produtor, dos veículos, das máquinas e embalagens entre tantas coisas, eu sei lá o número de elementos que um simples cigarro faz movimentar, é claro que já percebeu que o simples gesto de fumar, dá de comer a muita gente a uns mais do que a outros como creio que todos compreendem, então porquê esta guerra tão cerrada ao tabaco, será inveja, ou uma forma de reduzir os impostos dos Portugueses, pois com o decréscimo da venda do tabaco seria possível diminuir os impostos aumentando consequentemente o rendimento disponível das famílias, mas para quem não conhece economia, talvez estes termos sejam confusos, passo a explicar, como bom Português trabalhador por conta de outrem, pago impostos, ao deixar de comprar cigarros, a industria tabaqueira paga ainda menos impostos do que aqueles que actualmente paga, o seu endividamento à lucrativa banca diminui, não necessita de avultadas verbas para campanhas publicitárias e modernização dos meios de produção, porque a procura baixa e tem muito menos receitas, logo para esses diminuem os impostos não os lucros, ao não comprar cigarros eu passo a ter mais dinheiro no bolso, mas continuo a pagar imposto sobre as couves, logo pago menos impostos, sim porque felizmente o imposto sobre as couves é menor do que sobre o tabaco.
Está agora na moda um slogan expliquem-me como se eu fosse muito burra, ou qualquer coisa do género, eu proponho outra forma, expliquem-me porque eu sou inteligente, e não consigo aceitar que me tratem como se no lugar dos meus neurónios existisse pastilha elástica, que de tanto ser mascada acaba por perder o gosto, isto é a capacidade para ser crítico por analogia é claro, compreendo que se diga às crianças que fumar faz mal, e eu sei que faz mal, mas caramba dizerem-me a mim que não devo fumar porque faz mal, e obrigarem-me a pagar impostos para certos senhores se passearem com o produto deles não está certo, por isso mesmo parei de escrever e fui fumar mais um, isto de escrever de um só fôlego não é para todos, mesmo o politico com mais tarimba, quando discursa tem que fazer umas pausas, para não perder a capacidade de enganar os mais incautos e depois fala com tal convicção das suas mentiras que acabamos por ficar baralhados e acreditamos nelas, todos para Angola e em força, talvez lá possam ser úteis como plantadores de banana ou qualquer outro produto agrícola, pois aqui qualquer simplex que queiram lançar acaba por morrer enredado na teia da nulidade de quem os criou, até no nome tiveram falta de imaginação, pois existe uma marca de aparelhagem de detecção de incêndios com esse mesmíssimo nome estabelecida no mercado há muitos anos, mas pensando melhor, agora o erro do uso da mesma denominação, não é actual deve-se ao facto de quando a marca foi registada, ainda não existia aquela coisa na Hora, e a transição do antigo sistema do registo Nacional de Marcas e Patentes para o novo, ainda está a ser alvo de um estudo profundamente elaborado por um qualquer assessor que não sendo amigo de ministro dorme com a prima da empregada do dito, que por sua vez ainda não acredita na força que uma resolução, tão bem publicitada, pode adquirir no chamado contexto da recuperação económica, por este facto a empresa detentora da marca original, deverá quanto antes muda-la para não ofuscar a qualidade de recente criada marca da complicação burocrática do País, sob pena de lhe ser aplicada uma coima por plágio, da estupidez, daquele que num dia de diarreia mental em vez de ficar em casa a dormir ou a fazer algo mais útil para o País, por exemplo meninos pois ai sim estaria a aumentar a longo prazo a capacidade produtiva desta Nação, resolveu deixar sair aquele mau cheiro de cujo conteúdo nada se sabe, mas conhece-se o aroma, mas a culpa não é dele mora no interior, recebe subsidio de renda ou lá como se chama, todos os dias, apesar de residir em Lisboa à muitos anos.

SIMPLES

Simples foi o tempo que eu não queria perder, contudo tornou-se complicado dispersou-se entre a bruma que se fazia sentir nesse dia, calmamente pensei numa forma simples de facilitar as coisas, não foi fácil as reviravoltas eram tantas que mesmo simplificando tornou-se intransponível tornar as intenções simples, são grandes as barreiras que separam a simplicidade, para não desistir do propósito retirei tudo quanto de supérfluo ainda existia, sem resultado, continuava a faltar qualquer coisa na busca incessante de tornar o tempo simples, achei uma solução não procurar o que já existe, mas antes perfilar-me na fila dos que sem tempo, encontram sempre tempo para não usar o tempo.
Simples foi aquele sorriso sem dentes do idoso que me pedia algum do meu tempo para pela enésima vez me contar a história de quando sozinho no meio da serra encontrou um burro que tocava piano e falava francês pensei, conheço a história é a do gato maltês, porque me falará ele do burro e titubeante retorqui não era gato, ele de uma forma vigorosa respondeu, não era mesmo um burro pois só as pessoas inteligentes como ele conseguem acreditar nas fábulas que nos querem contar, não percebes que do modo como isto anda só uma daquelas fábulas antigas adaptadas para o nosso tempo nos fará adquirir um pouco mais de brio nacional.
Simples foi o abraço que senti, quando já cansado procurava refugio da tempestade que ia dentro de mim, nesse dia pensei que algo iria mudar, em vão depois daqueles breves segundos em que senti dois braços à minha volta, ficou tudo como se nada se tivesse passado, o meu sorriso voltou a ser negro e a minha cara fechou-se para poder afastar qualquer tentativa de contacto, qual viajante que desbravando novas terras, não sente necessidade de cumprimentar todos aqueles que se cruzam com ele, mas apesar disso vai contemplando a realidade que o cerca, tirando dela talvez novo alento para continuar descobrindo.
Complicado é saber que existo, que tenho sentimentos que não posso mostrar e mesmo tentando tudo, jamais serei compreendido, porque também não me quero dar a conhecer, seria um descalabro, se assim é como é, depois perderia por completo aquela parte de mim que tanto prazer me dá, sim porque alguma da minha reserva dá-me muito prazer, tanto que de forma egoísta guardo-a só para mim, quantas vezes rodeado de pessoas, eu estou naquele lugar onde já encontrei alguma tranquilidade, ou então revejo aquela forma que me fez vibrar ao transportar-me para um estado de catarse, dificilmente poderei encontrar espaço para a minha ansiedade, nada está bem, tudo me merece um reparo mesmo eu, critico-me com a força do lápis azul da censura.
Complicado é deixar os meus sonhos morrerem, por falta de coragem para dizer não, pouco a pouco fui entabulando uma parede de silêncio, não um diálogo construtivo, recusei falar com a minha razão, deixei por comodismo falar a obrigação, hoje colho os frutos da minha indecisão, do facto de me ter enjaulado, e espertos os que me rodeiam aproveitam-se disso, que poderia eu esperar, as feridas são profundas, a medicina apesar do seu avanço não as consegue sarar, não se consegue arranjar um coração destroçado, não posso acusar ninguém, fui eu que quis que me deixei envolver, agora é tarde para rumar a outro porto, e o barco já está muito velho, não suportaria o rigor da viagem as vagas seriam por demais alterosas para que não sucumbisse ao seu peso, então tudo estaria perdido, o desconhecido nesta fase mete-me confusão, mas quem sabe um dia será.
Complicado é viver com a incerteza real de que nada é certo, pois nós de certo nada temos, melhor dito temos sim a certeza de que um dia iremos desaparecer, e desta realidade não nos podemos alienar, mesmo que à nossa volta todos possam pensar que tudo está certo, os realista são forçados a dizer o contrário, desenganem-se os que remam em direcção oposta ao estabelecido, mais cedo ou mais tarde acabam por sentir na pele a corrente traiçoeira, que brota dos indigentes carneiros, que qual girassol rodam em torno de quem por efémeros segundos detém o poder, ele o poder depressa passa e quando acaba, acabam as benesses dos que com ele privam, mais depressa se esquece o bem que o mal, diz o povo, e quando se cai é difícil depois levantar-nos, assim qual deve ser a nossa conduta, fieis aos poder e a cada momento vender a alma a quem mais dá, ou simplesmente continuar o nosso caminho apoiados no nosso bordão, sem recear as tormentas que iremos passar por não termos sombra para nos abrigar.

sábado, julho 22, 2006

ESCOLHER

Um destes dias fui chamado a escolher entre dois candidatos, tarefa aparentemente simples pois não se tratava de uma eleição crucial, daquelas em que poderia vir grande mal ao mundo, na fase de campanha fui inundado por um dos candidatos com um turbilhão de informação sobre aquilo que pretenderia fazer se fosse eleito, a poucos dias da eleição e curiosamente no mesmo dia, tive a oportunidade de estar com cada um deles, um pela tarde o outro ao final do dia, pretensamente para ser esclarecido sobre a linha de actuação futura de cada um. Já tinha sido informado de qual seria o sentido de voto de um dos meus correligionários e se ele me disse que o candidato é bom vou votar nele, posteriormente um dos agitadores de serviço da secção, conhecido pela sua grande capacidade de intriga e de provocar arruaça externamente se tal lhe for vantajoso, abordou-me para me sondar e informar que iria integrar uma das candidaturas, fiquei de pé atrás, mas como não quero votar em branco vou ouvir os dois. as cantilenas do agitador, mas não é disto que eu quero falar.
Assim aconteceu, no dia marcado e a convite do seu “mandatário” lá fui almoçar com o candidato apoiado pelo agitador, encontrei uma sala bem organizada com um programa eleitoral em cada um dos lugares, a logística tinha sido bem tratada, perfeito para angariar o que se pretendia, depois do almoço e antes do café pausa para se ouvir o candidato, começa o senhor a falar e qual é o meu espanto quando o ouço afirmar que só nesse dia teve conhecimento de quem o apoiava ao ver o texto final em forma de livro, o que era suposto ser o seu programa de actuação, nesse instante pensei soa a falso, recordei os tempos em que eu próprio tive que elaborar o meu programa de actuação, não deixei nada fora do meu controlo, apesar de com todos os outros elementos eu ter dialogado e ter aceite algumas das suas sugestões, foi minha escolha o texto final apresentado, não sou politico de carreira dai talvez a minha fraca capacidade para delegar, mas não ficou por aqui notei a insegurança com que ele falava daquilo que supostamente tinha escrito, logo ali os meus botões falaram, apoiado por quem és e com esse discurso agradeço o almoço mas o meu voto não levas.
Entretanto fui convidado para jantar fora, esse dia foi o ultimo dia de desilusão nacional, Portugal perdeu sabem com quem por isso não vou referir, não sendo de todo amante de futebol gostava que o resultado tivesse sido diferente, teríamos tido mais uns dias de descanso, sem noticias ruins e sem nos preocuparmos com o modo como o governo desgoverna, não me sinto governado pelos senhores que lá estão antes pelo contrário, bom mas voltemos aos candidatos no final do jogo tendo na boca o amargo da derrota, dirigi-me para o local onde seria a apresentação do outro candidato, deparo-me com uma pessoa tranquila, rodeada de pessoas igualmente tranquilas, daquelas que nos fazem sentir que estão felizes, no olhar dela e na forma como me cumprimentou notei segurança, temos postura, não me lembro quantas pessoas estiveram lá, mas sim as suas primeiras palavras, obrigado por estarem aqui a uma hora destas, dispostas a ouvir o que eu tenho para vos dizer, lá continuou confesso que na voracidade de ler o seu manifesto, estive parte do seu discurso sem prestar grande atenção, acabado o seu discurso e apesar de um desalmado cachorro ter latido durante uma parte significativa dele, controlada que foi a saída do observador, na hora decidi apoiar a sua candidatura.
Após a eleição não recordo quando, o meu telemóvel tocou, do outro lado ouvi a voz de alguém que eu jamais imaginaria que pudesse ligar-me, olá eu sou a eleita, telefono para agradecer a ajuda que deu para a minha eleição, como não sou perfeita quando achar que estou a ir mal não hesite ligue e diga de sua justiça, na hora balbuciei um ténue ok, passado o momento disse, fiz uma boa escolha, pensei, grande diferença do clássico, que forma correcta de estar na vida, a independência de quem não precisa do cargo que vai exercer reflecte-se nestes pequenos gestos, é bom quando em qualquer altura podemos dizer que erramos ser ter o rabo preso, como alguns dos párias da politica que andam por ai.

quarta-feira, julho 12, 2006

Sabes

Sabes que eu não sou uma coisa, que se usa e deita fora, porque teimas em fazer-me sentir como desperdício, caco velho que por já não ter utilidade se coloca no lixo, começo a estar cansado do ambiente que me rodeia, desta sociedade de descartáveis onde somos carneiros, vagabundos e tratados como estúpidos, que triste forma de viver, nesta corrente que avassala o meu pensamento, recordo e procuro um sentido para a minha existência, quantos caminhos deixei a meio por medo, quantas vezes fui tratado como erva daninha, quantas vezes me violaram o corpo e a alma, sim porque apesar de homem também me sinto violado, violentado, tratado como indigente, mas apesar desta indiferença procuro calar dentro de mim a revolta, disfarço com um gélido sorriso a dor que tudo isso me provoca.
Nasci com um objectivo, qual é, quantas vezes não sei, nas diversas tentativas de o encontrar tenho somado derrotas, sim a vida tem-me derrotado, são falhanços atrás de falhanços, nesta viagem que por não ter rumo, deixa passar ao lado aquilo que me poderia tornar mais feliz, olho para o teclado e sinto raiva das teclas por me obrigarem a escrever e me mostrarem que não posso calar-me, tenho que fazer fluir esta dor que me percorre, paro para reflectir e vejo à minha volta a confusão instalada na minha secretária, tenho pouca vontade de lhe dar fim, procuro um folgo para continuar com o propósito do meu dia, mas desisto não vale a pena, pouco importa pois apenas os carneiros são bem vistos, por isso mais papel menos papel tanto faz, só contam os protegidos, eu sempre fui um desalinhado, qual D. Quixote a lutar contra os moinhos de vento, os dele eram imaginários os meus fantasmas são reais, é esta monotonia cinzenta que me obriga a chegar sempre cedo, as regras a que me imponho, esta conduta a que me apego, qual concha que me protege, o pior é que quando finalmente reunir força para quebrar com tudo e sair, qual guerreiro para travar a batalha da minha vida, não sei se vencerei ou não, mas seguro do meu querer irei triunfar, pois sentirei do meu lado a razão, a minha razão, não aquela que me tem sido imposta.
Tinha preparado o meu dia queria fazer uma limpeza, mas logo que senti o cheiro do gabinete desisti, a minha vontade foi sair, e ir procurar o mar e nas suas ondas calmas, encontrar embalo para a minha mágoa, como é duro a solidão acompanhada, como pode ser cruel a consciência de que somos usados, repetidamente sinto-me uma máquina de lavar, sou usado tal como ela para limpar o que de menos bom vai acontecendo ou é necessário, nem mesmo os conselhos de quem não tem nada para aconselhar me fazem sentir melhor, se existe cura para a amargura ela tem que partir de mim, não a posso procurar no exterior, de mim há-de brotar o que de melhor existe e nessa altura poderei encontrar muito daquilo que tenho procurado, até lá vou deixando fruir os dias e com eles a esperança de que encontrarei algo melhor.

SOL

Sendo o sol o astro rei que ilumina as nossas vidas, apesar das altas temperaturas que se fazem sentir, a atmosfera está bastante carregada, por estes dias no reino de Somar, a notícia esperada do encerramento de uma unidade de produção, de um dos maiores empregadores da zona, deixou sua majestade sorumbática, como pode tão alta burrice vir conspurcar a sua brilhante gestão, como podem os responsáveis não atender às petições, greves de fome, bater de pés e puxões de cabelos para não falar das peixeiradas feitas à boca pequena, que sua majestade tem perpetuado desde os tempos em que tal foi ventilado, debalde quem pensa que sua majestade não tem voz, e que não se faz ouvir junto das mais altas instâncias dos reinos vizinhos, mas com a pouca credibilidade de sua majestade o que se pode esperar, cada um tem na medida do que merece, mas eu queria falar do Sol e por momentos o meu pensamento cruzou-se com as noticias, é assim a vida faz-nos cruzar a todo o momento com agressões, alegrias externas e um rol de queixas que nos distraem para o que realmente é essencial, o sol, para além daquilo que todos nós conhecemos dos manuais das nossas escolas, proponho-me a abordar esta temática não numa perspectiva cientifica e eventualmente maçuda, mas antes leve como os seus raios plenos de esplendor, que nos dias carregados nos enchem a alma com aquela alegria, de quem nada tendo, sabe viver como se tudo estivesse ao seu alcance, felizes os ditosos que do pouco sabem fazer muito, que nostalgia ao verificar os tempos em que despreocupadamente percorria de pé descalço as pedras do meu quintal, como me divertia com um tanque de lavar roupa cheio de água, bastavam-me as mãos e a luz clara do sol, quantas gargalhadas aquela perua que mataram por alturas do Natal, escutou enquanto eu teimosamente lhe ia dando banho, cruel podem dizer agora, mas o que se pode esperar de uma criança com cinco anos senão que brinque, não sendo a altura para muitos brinquedos que a vida era dura, as minhas distracções passavam por utilizar os recursos disponíveis, agora chama-se reciclar, com paus de vassoura e papel de jornal consegui fazer um conjunto de marionetas que faziam as delicias da minha assistência composta sobretudo pelas galinhas, galos, coelhos e a perua da capoeira da minha mãe, recordo com saudade o aroma e o sabor das peras que nessa altura existiam no quintal, disso tudo só resta o limoeiro, que apesar de todos os ataques teimosamente continua a produzir limões, tão suculentos que bastam algumas gotas para fazer um excelente limonada, ou uma requintada efusão para os dias em que o sol não se vislumbra no horizonte, consequência directa falta de sombra e azedume nos seres humanos pois normalmente este tempo faz-se acompanhar de chuva, mas é assim mesmo, a ilusão dos simples complica-se com a influência dos ditos sábios, ignóbeis criaturas que só sabem destruir o que realmente tem valor, por esta altura estará a pensar mas que texto tão comprido feito em discurso directo e utilizando sempre o mesmo paragrafo, pois bem quero esclarecer, que na vil tentativa de me libertar, da opressão de um estado dito democrático, resolvi vingar-me, daqueles que em tempos idos, me fizeram aprender que a vida não passa de uma convenção e que importa conhecer bem cedo, para obtermos as maiores recompensas da nossa sociedade, ele são prémios, distinções, convenções e seminários tudo em prol da manutenção do status, que os ditos atingem depois de valorosamente alcançarem o dito…, sabem do que falo, mas desde que um burro entrou na faculdade, para gladio dos doutos professores que finalmente tiveram um adversário à sua altura, que isto de ensinar obriga a usar os neurónios, temos que ser convincentes naquilo a que nos propomos, a que se esqueça depois do que se aprende, pois este animal era mais aplicado que os demais alunos, e assim conseguiu passar com distinção em todos os exames que constituem a parte teórica e prática do curso de zombeteia da universidade da lusofobia e depois de assinado por mim, escrivão da função pública reconvertido, por extinção do cargo de lente desta faculdade, fui atirado para a penosa tarefa de validar, somente em dias de muito pouca agitação, os créditos que todas as reformas do ensino, efectuadas desde os tempos de D. Afonso Henriques, que de história eu não gosto, lhe conferiram as habilitações necessárias para que após concluído todo o processo o dito burro passa a chamar-se doutor, tendo como tal direito a usar o titulo, secretária de quatro pernas, pois as outras podem ser perigosas, estando reunidas as condições para auferir uma alta remuneração, centrando-se o dito doutor apenas na terrível tarefa de compreender como é que um burro carregado de livros é um doutor, e o animal assim chamado, por si só nem uma palha carrega, são os outros que primeiro o tem que carregar, mas isto é o sol da minha vida as trocas e destrocas que as palavras me atiram, sem me deixarem descansar, mas elas são a razão de umas quantas zangas com o meu relógio de ponto, não percebeu eu sei, talvez mais tarde eu diga tudo o que me vai na alma, mas antes tenho que disciplinar a minha razão.

segunda-feira, julho 10, 2006

LUA

Será que eu estou cansado e sem paciência para a parvoíce, espero que não pois no reino de sua majestade Somar são necessárias grandes doses de paciência e uma vitalidade sem limites para se suportar a idiotice dos seus pares, já não falando do adjunto, sim no reino de Somar a bajulice conta e muito, a ignorância protege-se uma à outra, não há dinheiro para honrar compromissos, mas existe para trocar as viaturas de certos senhores, não se limpa, mas no entanto gastam-se verbas com manifestações culturais de duvidoso gosto, agora é qualquer coisa relacionada com a lua à quinta-feira, a afluência deve ter sido tal, que restaurantes e cafés da zona tiveram por certo que contratar funcionários extra para servir toda a clientela, pelo que me disseram nem em dia de marchas de S. António na Av. da Liberdade estava tanta gente, está pois garantida a continuidade deste brilhante evento cultural, as receitas próprias do município subiram extraordinariamente, a tal ponto que à semelhança do presidente da assembleia municipal, o evento já é considerado um modelo para outros municípios, a afluência de autarcas interessados em saber o segredo deste milagre é tanta, que foi necessário contratar mais funcionários para o núcleo de informação e relações publicas, até o primeiro já pensa em aplicar o mesmo conceito para aumentar as receitas do Estado, assim o problema da Opel será menor comparado com as amplas perspectivas criadas por este inovador modelo de sucesso, será invulgar no mínimo mas pouco importa, é claro que com festa e jogos se enganam os tolos, sim o provérbio não é bem assim mas falar de comida neste escrito não faria sentido, mas até quando teremos que continuar a aturar estes novos e brilhantes políticos de encher os bolsos, mesmo quando se mostram incapazes de resolver uma situação grave ou não pensando nos problemas básicos de um Município, pouco importa desde que o mel do poder continue a correr pelas suas vorazes gargantas, socialmente falando o que poderá ocorrer, se a fábrica fechar, não será a família directa de sua majestade e da sua corte de súbditos que será afectada, será por certo a de alguns daqueles que o ajudaram a chegar ao poder.
Tenho a impressão de que dos tolos se fará história, é assim que sua majestade, do alto da sua cadeira do poder nos considera a todos, pois ele qual alma iluminada com altas classificações académicas, e cursos complementares de existência duvidosa, por muito que outros andem estará sempre por cima, ainda não percebeu o que reflecte ao espelho, qual figura de estilo que perdida no tempo, continua teimosamente a reproduzir a máxima, já há muito gasta de que é a coisa publica que o faz correr, no entretanto os seus eleitores continuam a percorrer alguns caminhos que fazem mais lembrar a Idade Média do que um espaço do século XXI, neste tecido que é o reino existem várias cores sua majestade ainda não as reconheceu, talvez sofra de daltonismo, a sua realidade é construída de um cinzento pardo semelhante ao que foi utilizado para preencher de pilaretes a capital do seu reino, mas na capital tudo se pode fazer, mesmo que ponha em causa a circulação rodoviária e pedonal, o que diriam os nossos antanhos se confrontados com a cosmopolita capital do reino, com as suas avenidas rasgadas apenas para servir os interesses de alguns, sem acrescentar nenhum valor, verificassem o despudor com que algumas ditas beneficiações são executadas, por certo que pretenderiam voltar rapidamente para o lugar onde descansam das canseiras desta vida, mas eu não tenho uma voz critica, procuro encontrar algo que possa reflectir uma acção positiva neste tipo de eventos, mas perco o meu tempo, não podemos encontrar o sol no lugar da lua mesmo que seja à quinta-feira, pois cada um destes astros tem o seu lugar no universo e apesar dos eclipses acontecerem continua cada um a ter o seu lugar, assim mesmo com eventos ou sem eles o tempo cobrirá de pó a inutilidade de sua majestade e dos seus pares, se forem lembrados será pela sua ignobilidade, compadrio e falta de honestidade, conheço mais alguns adjectivos que seriam representativos do apreço que tenho por sua majestade, contudo não os aplico porque me fazem corar, e vermelho não é definitivamente uma cor de que goste, tenho pelos tons outros gostos, que me transportam para a calma de verdes prados perdidos na imensidão do olhar e aquecidos pelo tom laranja de um sol que apenas eu posso desfrutar, pois esse momentos de intimidade são exclusivamente meus, num mesmo lugar e perante a mesma situação, não é possível duas pessoas sentirem o mesmo ao mesmo tempo.

terça-feira, julho 04, 2006

Bocas

Lentos são os sons que a televisão vai soltando, transportam-me para uma calma aparente, o silêncio do resto da casa está repleto da nostalgia que a música vai imprimindo, pouca atenção presto ao que se vai passando por lá, mas o seu som enche-me, não é contudo suficiente para me afastar do teclado, estou a ficar viciado na escrita, não sei se aquilo que vai saindo terá valor ou não mas, teimosamente vou escrevendo ao sabor da alma, sobretudo aquilo que no momento vai fluindo por entre os dedos, não tem que fazer sentido nem contar uma historia digna dos clássicos, pouco me importa não tenho como meta ser fundador de uma corrente literária, ou ser nomeado para um Nobel da literatura, deixo no enredo dos meus textos, as bocas que por hábito não deixo de dizer em discurso directo, cresci a reprimir os meus sentimentos e só a muito custo é que agora timidamente os vou mostrando, mesmo assim numa forma que me protege, pois algumas vezes sinto que estou a cometer um crime ao escrever, direi mais tal ladrão que no cerrado da noite entra em casa e apropria-se dos bens de outrem, mas não estou só apenas brinco com o que me rodeia, tendo pouco tempo dispus-me a fazer o gosto ao dedo e tive o grato prazer de assistir a uma Assembleia Municipal, como foi divertido assistir a uma sessão de burrice mascarada de legalidade, que triste figura a daqueles deputados municipais, que mais pareciam chacais a disputar um cadáver e o que dizer do presidente da câmara qual matrona armado em mulher honrada, que figura patética de quem por falta de argumentos, limita-se a responder num tom demasiado jocoso, não dando mostras de estar verdadeiramente interessado em resolver os reais problemas do concelho a que preside.
Mas a culpa não é dele apenas de quem por falta de melhor o escolhei para candidatar-se ao cargo, diga-se com êxito, pois tudo o que é primo, cunhada, filho de presidente e presidente, tem que ter lugar nos quadros da câmara, já para não falar dos amigos, que por acaso também arranjam lugares e não são apenas básicos, daqueles a que até o comum dos mortais pode concorrer, não são criados de propósito para eles, para que não restem dúvidas consultem-se os anúncios, de preferência com e para que nada possa faltar, entrevistas em vez de provas escritas, assim é mais fácil entrar quem não sabe e ficar de fora quem sabe, mas mudam-se os tempos mas as moscas são as mesmas, triste politica, que apesar de ter existido uma revolução continua na mesma como a lesma, ricos cada vez mais ricos o que não é defeito, mas os outros ficam cada vez mais pobres, governantes que inventam moradas apenas para receber subsídios de renda, quando no exercício dos seus cargos tem direito a habitação oficial, mas isto não é grave, apenas uma ligeira inflexão no caminho, pois a crise deve ser paga por quem a criou, então eles que nos governam mal que a paguem, são tonteias atrás umas das outras, que porcaria de gente, não gosto deste tipo de adjectivos, mas irritado como estou, não consigo falar doutra maneira, desilusão é isso mesmo, aquilo que hoje é mentira, amanhã é verdade, que tentativa fútil a daquela assembleia ao tentar mostrar como nada se faz, mas tudo se diz, é presidente a dizer que o senhor deputado tem que fazer o teste de alcoolémia e o deputado a responder que no caso dele deve ser um teste à sida, mas claro é tudo em sentido figurativo, conversa em bom estilo literário, sem traduzir de facto uma intenção de ofender.
Pois é, assim estão os nossos políticos, mas a culpa é deles que mesmo burros, conseguem fazer-nos ainda mais burros do que aquilo que nós efectivamente não somos, cuidado que os burros são mais inteligentes que nós, parem um pouco já viram um burro a carregar-se, então que nome tão pouco próprio para um politico, assim é para não ofender um animal tão digno, passo a chamar-lhes capangas, sim é o termo mais adequado, pois é tal e qual, meros párias que engordam à custa do nosso trabalho e em troca fazem de nós robots sem direito a pensar ou a democraticamente discordar, como seria lindo de ver os nossos profissionais da politica a entrar numa fábrica às sete da manha e passarem o dia a executar tarefas repetitivas daquelas que ao fim de um certo tempo dão tendinites pela certa e mais tarde quando a sua força de trabalho já não é necessária tal folhas de papel são lançados para o desemprego, mas que discurso este para quem defende o capital e a iniciativa de cada um, mais parece dum extremista marxista para não dizer comunista, mas Marx escreveu o capital que pretendeu ser uma espécie de Bíblia para os comunistas e versava a problemática da produção e dos lucros da produção já naquele tempo existia a Burguesia e o Povo, mas temos um salvador da Pátria que qual Dom Quixote ergue espadas contra os moinhos de vento e que se coloca em bicos dos pés para dizer que pensa julga que o problema terá uma solução diferente, que figura parva como pode mesmo um ministro dizer a quem tem dinheiro o que deve fazer, tem mais é que lhe lamber as botas pois corre o risco de ouvir, cala-te tens telhados de vidro.