terça-feira, julho 04, 2006

Bocas

Lentos são os sons que a televisão vai soltando, transportam-me para uma calma aparente, o silêncio do resto da casa está repleto da nostalgia que a música vai imprimindo, pouca atenção presto ao que se vai passando por lá, mas o seu som enche-me, não é contudo suficiente para me afastar do teclado, estou a ficar viciado na escrita, não sei se aquilo que vai saindo terá valor ou não mas, teimosamente vou escrevendo ao sabor da alma, sobretudo aquilo que no momento vai fluindo por entre os dedos, não tem que fazer sentido nem contar uma historia digna dos clássicos, pouco me importa não tenho como meta ser fundador de uma corrente literária, ou ser nomeado para um Nobel da literatura, deixo no enredo dos meus textos, as bocas que por hábito não deixo de dizer em discurso directo, cresci a reprimir os meus sentimentos e só a muito custo é que agora timidamente os vou mostrando, mesmo assim numa forma que me protege, pois algumas vezes sinto que estou a cometer um crime ao escrever, direi mais tal ladrão que no cerrado da noite entra em casa e apropria-se dos bens de outrem, mas não estou só apenas brinco com o que me rodeia, tendo pouco tempo dispus-me a fazer o gosto ao dedo e tive o grato prazer de assistir a uma Assembleia Municipal, como foi divertido assistir a uma sessão de burrice mascarada de legalidade, que triste figura a daqueles deputados municipais, que mais pareciam chacais a disputar um cadáver e o que dizer do presidente da câmara qual matrona armado em mulher honrada, que figura patética de quem por falta de argumentos, limita-se a responder num tom demasiado jocoso, não dando mostras de estar verdadeiramente interessado em resolver os reais problemas do concelho a que preside.
Mas a culpa não é dele apenas de quem por falta de melhor o escolhei para candidatar-se ao cargo, diga-se com êxito, pois tudo o que é primo, cunhada, filho de presidente e presidente, tem que ter lugar nos quadros da câmara, já para não falar dos amigos, que por acaso também arranjam lugares e não são apenas básicos, daqueles a que até o comum dos mortais pode concorrer, não são criados de propósito para eles, para que não restem dúvidas consultem-se os anúncios, de preferência com e para que nada possa faltar, entrevistas em vez de provas escritas, assim é mais fácil entrar quem não sabe e ficar de fora quem sabe, mas mudam-se os tempos mas as moscas são as mesmas, triste politica, que apesar de ter existido uma revolução continua na mesma como a lesma, ricos cada vez mais ricos o que não é defeito, mas os outros ficam cada vez mais pobres, governantes que inventam moradas apenas para receber subsídios de renda, quando no exercício dos seus cargos tem direito a habitação oficial, mas isto não é grave, apenas uma ligeira inflexão no caminho, pois a crise deve ser paga por quem a criou, então eles que nos governam mal que a paguem, são tonteias atrás umas das outras, que porcaria de gente, não gosto deste tipo de adjectivos, mas irritado como estou, não consigo falar doutra maneira, desilusão é isso mesmo, aquilo que hoje é mentira, amanhã é verdade, que tentativa fútil a daquela assembleia ao tentar mostrar como nada se faz, mas tudo se diz, é presidente a dizer que o senhor deputado tem que fazer o teste de alcoolémia e o deputado a responder que no caso dele deve ser um teste à sida, mas claro é tudo em sentido figurativo, conversa em bom estilo literário, sem traduzir de facto uma intenção de ofender.
Pois é, assim estão os nossos políticos, mas a culpa é deles que mesmo burros, conseguem fazer-nos ainda mais burros do que aquilo que nós efectivamente não somos, cuidado que os burros são mais inteligentes que nós, parem um pouco já viram um burro a carregar-se, então que nome tão pouco próprio para um politico, assim é para não ofender um animal tão digno, passo a chamar-lhes capangas, sim é o termo mais adequado, pois é tal e qual, meros párias que engordam à custa do nosso trabalho e em troca fazem de nós robots sem direito a pensar ou a democraticamente discordar, como seria lindo de ver os nossos profissionais da politica a entrar numa fábrica às sete da manha e passarem o dia a executar tarefas repetitivas daquelas que ao fim de um certo tempo dão tendinites pela certa e mais tarde quando a sua força de trabalho já não é necessária tal folhas de papel são lançados para o desemprego, mas que discurso este para quem defende o capital e a iniciativa de cada um, mais parece dum extremista marxista para não dizer comunista, mas Marx escreveu o capital que pretendeu ser uma espécie de Bíblia para os comunistas e versava a problemática da produção e dos lucros da produção já naquele tempo existia a Burguesia e o Povo, mas temos um salvador da Pátria que qual Dom Quixote ergue espadas contra os moinhos de vento e que se coloca em bicos dos pés para dizer que pensa julga que o problema terá uma solução diferente, que figura parva como pode mesmo um ministro dizer a quem tem dinheiro o que deve fazer, tem mais é que lhe lamber as botas pois corre o risco de ouvir, cala-te tens telhados de vidro.