segunda-feira, junho 26, 2006

Telhas

Hoje acordei com uma daquelas telhas que nem dá para explicar, normalmente engulo aquilo que me fazem, sem reagir no imediato, hoje porém o meu estômago ficou reduzido durante a noite, e não consegui evitar a indisposição que um convite para almoçar despertou em mim, quero mesmo cada vez mais ficar no meu canto, assim não percebo a falsidade de quem me rodeia, estarei a ficar parecido com a avestruz, ou estou a procurar delimitar o meu terreno, pois é muito tenho feito para não me chatear, mas chegou o momento de dizer basta, tudo tem um fim, estou cansado de tanta hipocrisia, não pretendo alimentar mais situações dúbias, pão pão , queijo queijo Zeca dizia a publicidade pois é será mesmo assim, pisaram mas não vou calar a dor de ter sido pisado, basta, tanto me faz que me chamem bruto, mas acabou a situação do menino bonzinho.
Falando de outras coisas, não tenho que continuar a alimentar a telha mas é mesmo assim ela demora a passar, portanto tenho que encontrar soluções, rumar noutra direcção, desviar o meu pensamento quem sabe para aquela viagem, que fiz ao imaginário dos meus sonhos e onde posso sempre encontrar a minha alma gémea, sei bem que ela não existe, mas neste espaço a minha angustia transforma-se no desejo ardente de sentir tudo aquilo que não está no plano físico, como é bom saborear aquele leve toque que percorre o meu corpo, dando-lhe um calor capaz de incendiar uma floresta, ou mesmo apagar por completo o esplendor do sol, transporto-me para a imensidão de nada ter e de tudo possuir, como é doce a tentação de não ter limites, o meu sonho alimenta a minha sede de me sentir vivo, mesmo de cada vez que ele é interrompido, como o foi hoje, recomeça sempre e renova-se dando lugar a um estado de graça que me protege de tudo aquilo que me fere, durante muito tempo este sonho foi suficiente para me conter, agora está cada vez mais ténue a barreira entre o sonho e a realidade, ou perdeu a força que teve noutros tempos, as minhas telhas por vezes são maiores do que noutros tempos, tenho que começar a jogar à defesa, não posso deixar que terceiros paguem, contas que não são suas, temos sempre tempo para pensar, e para mudar de vida, mas altas são as montanhas que a vida nos reserva, contudo o gosto de as escalar sobrepõe-se à sua altura, chegados ao cume podemos observar a linda vista, e saborear o que fomos construir, mesmo que nem sempre fosse o melhor mas uma coisa nós poderemos dizer tentamos.
Espero que as minhas telhas possam acabar um dia, pode estar nas minhas mãos, tenho que as largar ao vento tal como as palavras, abandoná-las como se de folhas se tratassem, assim levadas pelo impulso da brisa partirão para bem longe e talvez me deixem saborear os pequenos prazeres que a vida tem, não falo de bens materiais, mas sim da alegria que é sentir a presença do amor que se dá sem nada pedir em troca, desinteressado e altruísta, mas ouvi dizer algures que nada se perde, nada se cria tudo se transforma, assim terei também que me transformar, em quê? Não sei, tantas dúvidas, onde poderei encontrar respostas, como é ingrato ter que viver sempre preso, estou cansado de ouvir até os passos de quem me espia e me faz sentir prisioneiro de uma existência sem qualquer sentido, o nosso caminho não é comum, sou mais um no meio da multidão, é por isso que me sinto só, mesmo muito só, não tenho amigos verdadeiros, porque nunca consegui construir uma amizade, quem me procurou quis sempre algo em troca, tratou-me como uma mercadoria por isso com um preço, mas eu não estou à vendo e por essa razão não tenho preço, então na minha capa vou mostrando que está tudo bem porém, mesmo acompanhado estou sempre sozinho, não consigo amar, vou esboçando leves sorrisos que escondem a minha infelicidade, procuro refugio em muitos afazeres, assim não tenho tempo para reflectir no quanto me falta, entregando-me por momentos sinto que estou acompanhado e um dia talvez encontre a confiança que me escapa e possa começar a amar, como será diferente então, pelo que ouço contar é um estado que transfigura a vida enchendo-a de cor, mas amar é uma coisa diferente de casar, casar e disso tenho experiência implica muitas coisas, os dias bons e os menos bons as minhas e as telhas dela, como é difícil a convivência pacifica entre o fogo e a água, é uma batalha que não se afigura simples, objectivos disjuntos por isso antagónicos, como são pesados estes laços que nos obrigam a suportar, que triste sina de quem nasceu para sofrer, penosamente carrega a minha cruz e tenho que na face exibir o meu melhor sorriso e agradecer pelas horas tranquilas que ela lhe não me oferece, alto bem alto gostaria de gritar que tenho pressa de viver e não posso adiar, o tempo passa e um destes dias tudo aquilo que eu poderia fazer hoje, será tarde amanhã, mas falta-me a coragem para quebras as cadeias que me tolhem os movimentos, este meio em que fui educado, impedem-me de dizer que vou partir à procura de um sonho e mesmo que caminhe sempre, um dia irei alcança-lo, no entretanto vou libertando a minha mágoa nestas linhas, mesmo correndo o risco de alguém vir e ler o que estou a fazer e por ainda não me conhecer apesar do tempo que já passou comigo ficar zangada, ainda não consegui perceber que mesmo que me ame muito, eu não sou capaz de a amar do mesmo modo.

quinta-feira, junho 22, 2006

Hoje

Hoje acordei com uma grande vontade de partir, esperava que o nascer de um novo dia me pudesse despertar outros sentimentos, uma vez que estamos no Verão e nesta altura normalmente a presença do calor faz-me sentir bem, contudo o facto de ontem ter tomado conhecimento de determinados factos, obrigou-me a ficar mal disposto. Gente sem princípios e competência esta que está à frente dos destinos do Município da área onde habito, falsos cínicos e sem qualquer qualificação que não seja a de tratar toda a gente abaixo de cão, como é possível que mesmo assim sejam eleitos, talvez porque o comum dos cidadãos não sabe o que se passa no convento, e como diz o povo com papas e bolos, não hoje não é assim é mais com empregos para o afilhado do primo que por acaso até é construtor e pode vir a desempenhar um grande papel nas obras privadas de cada um dos membros por nós, os que votaram neles, eleitos, ou então temos que assegurar colocação para a filha o genro e demais familiares directos ou indirectos em linha recta ou colateral, pois eles coitados fora da asa dos respectivos poucas hipóteses têm de sobreviver pois falta-lhes a sombra que evita a insolação da incompetência que normalmente têm.
Mesmo tendo decorrido trinta e tal anos sobre a revolução de Abril, ainda existem por ai monstros democratas, que à boa maneira do regime novo, são mais cooperativistas do que os outros foram, sim porque hoje é empreitada para ti, que por acaso até nem te conheço, por isso estou isento, empreitadas para os amigos desse empreiteiro que por acaso também não conheço, mas a vida é mesmo assim, temos que mostrar toda a independência que o exercício de um cargo politico exige, assim não temos de modo algum conhecimentos ou interesses em nenhuma empresa que trabalha para o município pelo qual fomos eleitos, mas esta crónica de bem dizer não sendo longa já diz parte daquilo que eu penso e sinto pelos políticos do meu município.

quarta-feira, junho 21, 2006

Olhar

Palavras soltas que o vento junta, pensava ele sentado na sua secretária, como ia longe o tempo em que carregado de esperança, acreditava que tudo podia aprender, hoje maduro pelos anos continua a pensar que ainda lha falta aprender muito e que o caminho não tem fim.
A sua ilha vai ficando povoada de muitas e variadas cores, porém a solidão atormenta-lhe o coração como pode o vazio ser tão cruel, olha para o lado apesar de acompanhado nada mais vê que a agrura de estar sozinho, a tristeza invade a sua alma tornando cinzentos os pensamentos que vai remoendo para si.
A vida passa como um filme, os tempos bons os menos bons e aqueles que só merecem ser esquecidos, como apagar aquilo que nos marcou, não existe solução, a nossa memória tudo grava e mesmo quando tudo parece apagado, volta tudo fresco como se estivesse a decorrer no momento.
Perante os olhos passam as pessoas, os lugares com os seus cheiros, as situações, e tudo com uma cor que turva o olhar, aquela lágrima que julgara perdida, teima em rolar no canto do olho, lançando água pela sua face já cravada com as crateras que a idade foi cavando, dando-lhe o aspecto sereno da terra pronta a receber a semente.
É desperto pelo som de uma buzina, quem é não sabe, nem tão-pouco a curiosidade o faz voltar a cabeça, que lhe importa quem é? Se for para ele por certo que o virá chamar, o cigarro companheiro da sua ausência, enche a sala de fumo, que péssimo vicio mas só tem este, pois não bebe com carácter regular.
Contra tudo o que nesta altura se diz, quanto ao hábito de fumar, ele lá vai queimando o seu cigarro, tem prazer em sentir o fumo do seu cigarro, no entanto os lugares em que exista muito fumo ele não gosta de os frequentar, por isso não é presença regular em discotecas ou outros lugares de diversão nocturna.
De repente o espaço torna-se apertado apesar da sua dimensão, que coisa estranha como é possível sentir-se apertado num sítio que lhe é familiar e amigo, que sensação é esta? Como pode estar com a impressão de que tudo lhe é hostil, carrega no seu ser todas as vezes em que não soube dizer o que lhe ia na alma, tal tem sido a pressão.
Agora a sua alma procura o consolo na escrita, ao escrever vai libertando aquilo que de outra forma não diz, pois cada vez mais cala quando o agridem ou mesmo o magoam, perder tempo com quem não o merece, é melhor continuar na sua ilha, nela encontra paz, vê o tempo fluir sem obstáculos, assim pode ter momentos felizes.
Pensa em fugir, mas a fuga não lhe resolve os problemas, apenas faz aumentar a distância a que está deles, mas mesmo assim sente mais a sua amplitude, e a sua incapacidade para os resolver, mas nem tudo é negro na ausência, mostra muitas vezes aquilo que falta e realça o que de bem se fruiu, sim pois de nosso não temos nada.
A indecisão quanto à sua pessoa sempre foi algo que o atormentou, não se consegue identificar de uma forma regular com grupos, passado algum tempo as duvidas começam a surgir e o frio começa a surgir na sua interacção com os restantes membros, não os pode culpar por esse facto, faz parte da sua natureza estar sempre a mudar.
Mudar que sensação tão boa, mas que corda bamba em que a vida se transforma, sempre programados para ser regulares, trabalhadores e ordeiros o que seria se de repente, o que está estabelecido fosse alterado completamente, diverte-o a ideia de ver as casa com os telhados assentes no chão e os alicerces no ar, que cidades tão bonitas.
As novas teorias apontam para pessoas cada vez mais infelizes, porque será? A indefinição dos tempos a isso ajuda, o que será o futuro, quando cada vez que se pensa nele, somos conduzidos para outros assuntos mais leves, existe o futebol, qual panaceia que foi inventada para nos afastar da realidade, pois enquanto as estrelas ganham, nós morremos de fome.
De repente tudo faz sentido descobriu o que já estava descoberto, depressão pós traumática, que agora está muito na moda para quem não quer trabalhar, que forma invulgar de pensar em tudo o que não consegue resolver, apenas tem que atribuir a culpa a essa malvada depressão que não lhe dá possibilidade de sorrir.

Vidas

O que será da vida sem vida, qual barco perdido sem encontrar um sinal da terra prometida que espera alcançar, como são lentos os dias a bordo, observando a imensidão do céu e do mar, sempre sem nada mudar, com vento forte ou fraco lentamente naquela vastidão, lá vai o tédio, que suporta as suas existências, barco e seu tripulante, avançando e neste torpor os dias vão quais páginas de um livro passando e sem se perceber as mudanças tudo vai mudando, são os passos inseguros da infância, os decididos da juventude, os cautelosos da fase adulta e os trémulos da idade, raros são os momentos em que a certeza os guia, mas os passos vão quais folhas arrastadas continuando o seu caminho, tolos são aqueles que acreditam progredirem na vida, com a convicção de que tudo corre de feição, o segundo seguinte é sempre uma incógnita, se agora me agarro é porque não sei o que virá depois, não consigo realizar o meu sonho, mas qual é tão pouco eu sei, sonho com aquela viagem que não fiz, com o carro que não posso comprar, eu não tenho sonhos tão simples eles são de outro estilo, sonho que me libertei dos meus medos, que me libertei da cadeia onde me encerrei por comodidade, que me libertei de mim e livre parti à procura do outro eu, que possa explorar tudo sem nada temer, a mentira claro que é uma verdade contada de forma diferente, ajuda a libertar as tensões mas tem como diz o povo perna curta, não se consegue manter sempre o mesmo sorriso.
A ilusão do sucesso faz-nos pensar que somos donos do mundo, mas que posso eu criatura sem êxito fazer, para também o ser, vou jogar, vai-me sair um prémio grande e depois com o dinheiro vou promover a minha imagem, ou irei entrar numa daquelas manifestações solitárias, a favor de alguma causa desconhecida, criar um plano de marketing e com passos seguros trilhar o caminho da fama, bolas mas isto não é possível, não nasci em berço de ouro, sem ele nada feito, por muito que possa vir a fazer, será impossível trilhar os caminhos da notoriedade, se dentro de mim existe alguém que me tolhe o espaço, que me impede de chegar onde gostaria de ir, este irmão gémeo que sou eu, mas que perdi antes de nascer, ficou preso dentro do meu ser, é ele que invariavelmente como o tempo, me persegue e me impede de, com passos ligeiros, me dirigir para o meu caminho, ando constantemente a vaguear perdido entre atalhos, que qual labirinto, se vão revelando conforme e na exacta medida em que vou caminhando, qual teia de aranha que me vai enredando e afastando-me da minha marcha, o rumo torna-se cada vez mais incerto, já não se vislumbra o norte, os obstáculos que em pequenos parecem grandes, agora soam intransponíveis dentro de mim, tal a dimensão que na realidade têm, procuro um passo de magia que me arranque deste estado e me conduza a um porto seguro, mas onde estará esse espaço, onde possa encontrar alguma protecção.
Longo é o caminho de quem está só, por mais que faça pode talvez não se sentir só, claro que estou a falar daqueles que não param para pensar, eu contudo não sou desse género, comigo tudo toma uma dimensão por demais real, seria bom passar por tudo sem me sentir só, as decisões seriam mais simples e menos penosas, mas por muito que me esforce não sou capaz de simplificar, ou não quero tão pouco já sei, nesta indecisão entre o que sou ou não, a razão ou razões pouco me importam, ou talvez não, mas neste mar de duvidas tenho que continuar, sempre em frente mesmo, que não saiba a direcção nem o lugar onde me vou encontrar, tenho contudo que prosseguir mesmo correndo o risco de não chegar, mesmo que busque aquele lugar que jamais existe, entre chegadas e partidas mesmo com a alegria de partir e a tristeza de chegar, continuo sempre livre para poder sonhar, mas eu não sonho, abro os olhos a uma realidade que quero fantasiar, para que me possa libertar da carga que me arrasta, penosamente e numa direcção aonde ninguém me consiga ir buscar, serei assim como aquele vagabundo que de tanto andar, ficou parado a apreciar a imensidão do espaço que o rodeava e pensou como seria bom encontrar um assento onde me pudesse sentar, de repente a praça encheu-se de gente, era tal o barulho que ele apesar de encontrar um lugar, fugiu para não voltar, assustou-se com todo o burburinho que a sua presença causou, e feliz não voltou.

segunda-feira, junho 12, 2006

Hora de Almoço

Hoje fui almoçar mais tarde, encontrei duas meninas, que por acaso conheço desde pequenas, numa primeira fase elas não me viram, tive oportunidade de observar que uma delas estava a fumar, avisada pela outra passou-lhe o cigarro, parva o que é que me importa a mim se ela fuma ou não, ou será que ela teve medo que eu podesse avisar os Pais de que ela fuma, pura perca de tempo, tenho mais que fazer do que avisar os outros dos eventuais problemas dos filhos. Sei bem que fumar faz mal, eu também fumo, sou adulto sei o risco que corro, no caso dela também já é adulta portanto pouco me importa, só achei graça à situação.
No entanto este episódio foi por demais caricato, como seria diferente se as pessoas fossem mais coerentes com os seus actos, não consigo perceber o porquê da atitude, não se justifica nos dias de hoje em que existe liberdade de expressão e não só, talvez seja produto da educação que recebeu, quem não tem não pode dar, que é o caso que esperar de uns Pais que de formação tem pouco, fazem-se passar por aquilo que não são, ruralidade.

Rola

Há uma rola que me vem visitar, poisa num poste para me saudar, chamei-lhe Carolina para não me assustar, todos os dias ao acordar ela como um relógio aparece a voar, não sei donde vem nem para onde vai, queria dizer-lhe para não voltar, mas não consigo comunicar. Já bati palmas sem resultar, a Carolina não sai do lugar, já lhe gritei, estás-me a enervar, ela teimosa fica a olhar, que hei-de fazer para te afastar? Pensei num tambor a ribombar, seria capaz de resultar, toquei o tambor mas nem me ligou, altiva nem se assustou, ficou a gozar, palerma estou a adorar o som do tambor, com que me estás a saudar.
Que estranha visita me acontece, não sei a razão de tanto stress, ou talvez sim, sabes Carolina eu tenho medo, medo de ti, tu culpa não tens, as aves fazem-me sentir assim, talvez seja inveja por não voar e sentir a liberdade do tempo a passar, para ficar bem penso em alguém que muito amei, estranha maneira de eu recordar quem ocupa um lindo lugar, será a saudade que me faz sentir que tu Carolina me vens visitar e na forma da rola me vens ajudar, que modo tão doce de me consolar. Porém a razão toma o seu lugar, disparate esse em que estás a pensar, como pode uma ave te consolar, se dela tens medo de te aproximar, com pouca coragem volto a olhar, lá está ela linda no seu lugar.
Apesar do medo estou a olhar, procurando um sinal que me possa ajudar, cantas com força para me lembrar, bom dia amigo gosto de te saudar, num gesto sereno tentei te tocar, mesmo à distância senti o pavor, do amargo sabor que me mostra a dor de não te tocar, mesmo com medo e sem hesitar procurei comida para te dar, eu não tenho milho, que posso arranjar, mas há pão de trigo que tu vais gostar, mandei-te migalhas para não te engasgares, abris-te as asas sem lhe tocar, ficaste com medo do que te queria dar, ou zangada por te querer comprar e com as migalhas tentar te agarrar, para depois numa gaiola te fechar, e de forma egoísta a tua liberdade te tirar, não tenhas receio, não te vou fechar, pois sei o tormento de não conseguir voar, voar para longe do que me faz sofrer, contudo não o quero dar a entender.
Olhei para o chão e as migalhas de pão que te mandei, são agora alimento para andorinhas, engraçado, era para tu comeres, como não o fizeste outros aproveitaram, é isso o que a uns sobra falta a outros, pensando bem, provavelmente a razão da tua visita não tem qualquer interesse pessoal, vens apenas porque gostas de mim e do teu dia reservas alguns momentos para mim, não queres nada em troca, apenas rever-me. Como o tempo passa, ainda ontem corria pelos campos e encontrei aquele pequeno pardal, trouxe-o para casa e carinhosamente arranjei-lhe uma caixa para dormir e um lenço para o cobrir, pensei que teria sede e fui buscar água, arranjei um copo mas era alto ele não lhe chegava, então troquei o copo por uma tampa de garrafa, ele não bebeu depois recordei-me, é a mãe que lhe dá de beber e comer, não sou ave, como fazer? Talvez da mão ele consiga beber, com muito cuidado, para não se assustar, peguei no pardal, por mais voltas que desse ele não bebia, cansado deixei-o na caixa e fui brincar, quando voltei já nem da caixa encontrei o lugar, disseram-me que um gato com fome o tinha comido, muito mais tarde soube que tinha morrido, piando bem alto, talvez a chamar por de quem naquele dia se tinha afastado, será que chorou ou não percebeu, que para sempre a mãe perdeu, não foi uma forma calma que ele morreu, será que sentiu saudades de quem conheceu.
Por muitas razões, que não quero explicar, tenho pressa de sair deste lugar, falta-me a coragem para tudo largar e perder-me naquele lugar onde apenas o sol me pode beijar, imagino como será a cidade onde nada existe e onde tudo está no seu lugar, como será o trânsito desde casa até ao trabalho que não vou ter, e aquele vizinho que só me aborrece, como passa agora que já não estou lá, divirto-me a pensar com o que irá na sua cabeça, para onde foi, que sorte a dele, eu ainda tenho que me preocupar com a renda da casa a água a luz e ele está descansado o olhar para tudo sem nada ver, e feliz como eu não consigo ser, por isso onde moro neste lugar já nada me prende, com tempo a solução vai chegar, desespero de uma alma para se encontrar, é isto que me leva a falar, sem usar a boca para não escutar, é mais seguro assim o silêncio não atormenta ninguém, mas as palavras ditas podem magoar, como não gosto deste lugar, eu não acredito que possas voltar, ficaste a dormir naquele lugar, talvez um dia lá te vá visitar, e enfim podemos falar mas sem gritar, basta-nos o olhar e assim perceberás sabes Carolina que gosto de ti.

Domingo Diferente

Gosto do fim do dia, a luz difusa do pôr do sol, espreita pela janela, é aquela fase em que o sol já não brilha, mas a lua ainda não chegou, não faz vento, a televisão dispara noticias sobre futebol, pouco lhe ligo, prefiro a musica que vou escutando enquanto escrevo, este período para mim é muito bucólico e magico naquilo que foi este dia de rotina do domingo, quebrada um pouco com a ida a uma festa de aldeia, ainda gosto destas coisas simples do chamado campo, o colorido da procissão onde cada um procura vestir aquilo que de melhor tem o que empresta uma vivacidade diferente à cor cinzenta do lugar onde apenas os mais idosos estão durante o dia, também já podemos falar de desertificação num sitio não muito distante da Capital, procuro a razão desta situação noutros tempos a agricultura era o sustento da maioria dos habitantes, hoje as exigências são outras, não basta ter comida na mesa, é necessário mais e cada vez mais, se o meu vizinho compra carro eu tenho que comprar também, se o Chico usa MP3 o meu filho tem que usar uma MP3S, neste contexto a escalada do consumismo vai crescendo, o que é bom para quem vende e produz, aos poucos e de forma clara cada vez mais vamos entrando no mundo do compra agora paga depois, pouco importa se depois falta dinheiro e sobre mês, por agora está tudo bem, nem mesmo os tímidos avisos que alguns vão difundindo, de que é necessário poupar um pouco, que não sabemos como será amanhã, estamos bem.
As nuvens no céu impedem-me de ver a pequena serra que fica perto, normalmente espreito pela janela e ela lá está, hoje porém só posso imaginar que a serra está lá, ou talvez se tenha mudado, cansada que já deve estar daquele lugar onde foi implantada, pois isto com as novas tecnologias do choque tecnológico, as serras podem ser colocadas em qualquer lugar, isto é os obstáculos surgem em qualquer lado e com formas variadas, é aquela estrada que por muito teimosa que era, foi condenada a ter mais buracos que alcatrão, porém mesmo na rua do lado onde mora o presidente o tapete novo impede o sol de brilhar pois a sua cor preta absorve os pequenos reflexos do brilhante astro rei, como é grande a diferença entre servir e servir-se, é tão difícil assim entender que as pessoas passam, as obras ficam, como podemos assegurar o equilíbrio entre aquilo que é bom para todos e não só para alguns, parece-me simples temos que pensar mais longe, projectar como será e a partir daí podemos caminhar numa direcção certa, se definir-mos que uma estrada em linha recta irá ligar a cidade A à cidade B com três faixas de rodagem para cada sentido de tráfico, podemos facilmente fazer a sua implantação em planta, depois podemos planear todos os aspectos urbanísticos que dai decorrem e podermos acautelar que no horizonte em que projectamos que a estrada vai estar concluída, e não iram aparecer obstáculos de última hora que impeçam que ela seja feita como inicialmente previsto, para não falar dos custos que as alterações de traçado irão necessariamente produzir, já perceberam que falo de uma estrada que não poder ser construída nesta País, pois seria impossível travar os jogos de interesses que obrigatoriamente se iriam movimentar, para que esta super via com maior ou menor desvio servisse a região interior e exterior do circulo eleitoral, que maior número de votos deu ao partido que não está no poder, pois quem está no governo serve os reais interesses de toda a população, sim porque no poder só estão voluntários, que trabalham em prol da humanidade de uma forma desinteressada e que quando acaba a sua missão, estão condenados a sobreviver com a pensão mínima nacional, se é que existe.
Não sei como é que eu começando a falar de uma coisa banal, como o que normalmente vejo da minha janela, acabei por entrar na construção de uma estrada, na falta de planeamento que existe neste País e na forma desgovernada como o poder vigente conduz a politica nacional, arrisco-me a que qualquer dia seja convidado, para desenvolver um projecto de reforma do sistema de avaliação da actividade das paralelas semifendidas do estreito da fenda tecnológica, proposta pelo meu amigo, que por acaso até é assessor do ministro para os assuntos sem agenda, proposto pela reforma da administração do último conselho que não existiu e sem competências delegadas, acabou por deixar na gaveta aquele relatório, que teria que ser entregue num prazo generoso não previsto, asseguradas que estavam as necessárias verbas orçamentais, o que acarretou que toda a problemática de desenvolvimento integrado da fenda, fosse relegada para segundo plano, dado o incremento verificado na aparente falta de consistência do sistema de desmistificação da cultura dos oleaginosos extraídos a partir da bolota de sargaço, desenvolvida na sub região integrada do alto do lobo, donde aliás é oriundo o tal assessor de que lhes falei, que por acaso também é familiar do irmão do ministro, que por não ser familiar em linha recta, pôde deliberar sobre a sua admissão para os quadros da função publica, pois compadrios aqui não existem e só os melhores estão no serviço publico, falava dos políticos que não tem amigos, oh mas esses não existem acabei de me lembrar.

A Cigarra e a Formiga

Estou farto da velha história da cigarra e da formiga, aquela em que a formiga trabalhava e a cigarra só cantava e depois vinha o Inverno e a cigarra passava fome e a formiga comia daquilo que tinha recolhido, pois bem nesta história a cigarra passa os dias a trabalhar laboriosamente como os disputados da Nação, fazem pontes, faltam aos plenários e sobretudo não perdem um jogo de futebol da nossa selecção, seja ele quando for, se não existir legislação eles criam-na, assim justificam a sua ausência com o trabalho de verem o jogo, estas cigarras ao contrário das outras não passam fome no Inverno, os seus magros e generosos salários, permitem-lhe viver modestamente e aspirar quem sabe a poderem comer uma refeição decente todos os dias, irem de férias para a Cova da Moura e tomar águas nas termas do Cartaxo, para além disso passeiam naquele modesto carro que por acaso já está velho com três anos de uso, mas o que dizer das suas casa dignas de qualquer bairro clandestino da periferia, o subsídio de reintegração não é suficiente para morar naquele condomínio privado com vista para a Sé, ou quem sabe para o rio Tejo, talvez na Lapa, pobres cigarras que dia árduo elas normalmente têm.
Depois de uma longa vida de trabalho duro penoso e enfadonho até ao oitenta anos, idade legal da reforma para estas cigarras, pois desde que existiu um candidato a presidente desta república já com essa idade, a legislação foi mudada e agora todos os disputados trabalham até aos oitenta, são mais que justas as parcas reformas que auferem, é mais outro elemento desta história, claro está que não se trata do Pais real, desta nação onde um dia alguém perdeu as botas, com que tinha dado um pontapé já não sei bem se ao Pai ou à Mãe, pouco importa pois estou a falar de cigarras e formigas, e elas não brigam uma com a outra apenas têm pontos de vista diferentes, sim no fim cigarras e formigas terão um final feliz, só não sei quando mas isso pouco importa, aliás o que é que importa, se na vida real tudo é de cor menos rosa ou mais rosa, as fábulas existem e todas falam de coisas irreais, como daquela péssima secretária que cansada de o ser, resolveu ser assessora informática do ministro da treta, do desenvolvimento, da cultura, das espécies em vias de crescimento, da aglomeração dos serviços saídos da concentração de competências, realizadas ao abrigo da lei de esbanjamento das despesas publicas, publicada, referendada e não sei mais quê, que deveria saber, para que uma lei entre efectivamente em vigor, eu sei os passos que são necessários para que uma lei tenha forma e entre em vigor começando a partir dai a ter força de lei, mas não quis dizer todos, não cabia nesta história.
Até agora falei das cigarras, agora vou dar a palavra à formiga, qual tia de subúrbio, usa roupas da botica alcofa, com elas faz furor nas aberturas de qualquer evento social, tem motorista para que não perca tempo indo de uma para outra festa, e depois de muito cansada entra num realiste show, para mostrar o quanto trabalha, apesar de na barraca em que vive a empregada tratar de todas as obrigações domesticas, com esta pequena contribuição, para o nosso entretenimento, recebe um grande cacho, ele é cenouras, couves de Bruxelas, rabanetes, espinafres todo o tipo de alimentos que a formiga de uma forma generosa irá oferecer à diligente cigarra, pois é socialmente correcto que formiga que se preze ofereça aquelas roupinha da botica, que já deixou de usar, para a obras das cigarras da rua, ou então quando a câmara está por perto, abre aquele lindo sorriso de dentes cariados, por falta de dinheiro para pagar ao dentista e diz, estou muito feliz, estou muito feliz, o meu Doutoramento na Universidade da Lagoa de Almoster, onde os peixes já não existem pois agora corre lá um esgoto a céu aberto, mas isso não interessa agora, obviamente, reputada pela formação que dá aos seus alunos, permite-me dizer mais uma vez e com toda a graça que estou muito feliz e para que não fiquem cansados só quero dizer mais uma vez estou muito feliz, o plano fecha com os restos das sardinhas enlatadas, os pasteis de bacalhau e as tortas de Tagerro, servidas com um vinho Portel da colheita de 1820 frutado com aroma misto de cedro e banha, para não alterar a linha, como sobremesa arroz salteado com ginja e atum servido com molho quente de framboesas colhidas no próprio dia, pois caviar, perignon e outras coisas que tal já não são para formiga que se preze e tenha pagina fixa nas revistas do sector.
Falta o final feliz, já me esquecia, as histórias normalmente contam um final feliz do tipo a que todos estamos habituados, por isso pegue numa qualquer e escolha o seu final feliz, nesta mando eu por isso e vamos por partes a cigarra vai continuar a trabalhar como os disputados, será condenada a ter todos os dias de folga e pontes que o calendário permitir, quanto à formiga terá tantas festas de caridade e eventos sócias que passará o resto da vida a tratar dos dentes, pois a cigarra finalmente deu um subsídio à formiga para os tratar.

quinta-feira, junho 08, 2006

Aprendi algo de novo

Hoje criei o meu blog como tudo na vida tive alguém que me ajudou, como é bom poder sentir que existem sempre novas coisas para aprender, nada se faz sozinho. A minha ilha tem mais uma ponte, agora só me resta esperar que alguém a percorra, dela pode-se ver como a paisagem se vai transformando de árida a luxuriante, não se pode ter medo, pois apesar de recente esta ponte conduz-nos a novos caminhos.
Tanto tempo sem sentir a brisa refrescante do meus ser, porque me fecho entre situações vagas algumas vezes e demasiado dolorosos noutras? Resposta não a conheço, talvez mais tarde no caminho para casa ela possa aparecer, mas qual é a importancia desta resposta,vai mudar aquilo que eu sou...talvez, na busca de porquês quantas vezes estou perdido.
Para onde vou só vejo circulos, que se propagam como se estivessem entre dois espelhos paralelos, repetem-se até ao infinito, onde está ele, como posso lá chegar, talvez atrás da solidão? E este espaço que me sufoca, vazio apesar de preenchido, tanto redundância, maldita agrura que me faz fugir e perder o sentido do meu coração,quanto tempo passou desde que perdida que foi a inocência de em tudo acreditar, esse espaço foi preenchido pela razão de tudo questionar, como posso ser tão severo comigo, tantas regras que não consigo quebrar, imagino como seria simples, andar sem nunca para, apenas vaguear, hoje posso ter, amanhã não, o risco é grande? Já não o consigo correr.Prendem-me demasiados laços de seda não os consigo ver, tão pouco rompe-los, mas fazem muita força.
Talvez fosse mais simples se eu fosse uma árvore, será que elas sentem? Mas em cada Primavera, lá estão elas a dar flor, com elas está sempre aquela ave, mas como tenho nojo de aves, não posso ser árvore, então tenho que existir mas numa forma diferente, vou ser livre como o vento, que ninguém vê mas sente o efeito, não pode ser o vento transporta as aves, seria um mau vento.