segunda-feira, junho 12, 2006

A Cigarra e a Formiga

Estou farto da velha história da cigarra e da formiga, aquela em que a formiga trabalhava e a cigarra só cantava e depois vinha o Inverno e a cigarra passava fome e a formiga comia daquilo que tinha recolhido, pois bem nesta história a cigarra passa os dias a trabalhar laboriosamente como os disputados da Nação, fazem pontes, faltam aos plenários e sobretudo não perdem um jogo de futebol da nossa selecção, seja ele quando for, se não existir legislação eles criam-na, assim justificam a sua ausência com o trabalho de verem o jogo, estas cigarras ao contrário das outras não passam fome no Inverno, os seus magros e generosos salários, permitem-lhe viver modestamente e aspirar quem sabe a poderem comer uma refeição decente todos os dias, irem de férias para a Cova da Moura e tomar águas nas termas do Cartaxo, para além disso passeiam naquele modesto carro que por acaso já está velho com três anos de uso, mas o que dizer das suas casa dignas de qualquer bairro clandestino da periferia, o subsídio de reintegração não é suficiente para morar naquele condomínio privado com vista para a Sé, ou quem sabe para o rio Tejo, talvez na Lapa, pobres cigarras que dia árduo elas normalmente têm.
Depois de uma longa vida de trabalho duro penoso e enfadonho até ao oitenta anos, idade legal da reforma para estas cigarras, pois desde que existiu um candidato a presidente desta república já com essa idade, a legislação foi mudada e agora todos os disputados trabalham até aos oitenta, são mais que justas as parcas reformas que auferem, é mais outro elemento desta história, claro está que não se trata do Pais real, desta nação onde um dia alguém perdeu as botas, com que tinha dado um pontapé já não sei bem se ao Pai ou à Mãe, pouco importa pois estou a falar de cigarras e formigas, e elas não brigam uma com a outra apenas têm pontos de vista diferentes, sim no fim cigarras e formigas terão um final feliz, só não sei quando mas isso pouco importa, aliás o que é que importa, se na vida real tudo é de cor menos rosa ou mais rosa, as fábulas existem e todas falam de coisas irreais, como daquela péssima secretária que cansada de o ser, resolveu ser assessora informática do ministro da treta, do desenvolvimento, da cultura, das espécies em vias de crescimento, da aglomeração dos serviços saídos da concentração de competências, realizadas ao abrigo da lei de esbanjamento das despesas publicas, publicada, referendada e não sei mais quê, que deveria saber, para que uma lei entre efectivamente em vigor, eu sei os passos que são necessários para que uma lei tenha forma e entre em vigor começando a partir dai a ter força de lei, mas não quis dizer todos, não cabia nesta história.
Até agora falei das cigarras, agora vou dar a palavra à formiga, qual tia de subúrbio, usa roupas da botica alcofa, com elas faz furor nas aberturas de qualquer evento social, tem motorista para que não perca tempo indo de uma para outra festa, e depois de muito cansada entra num realiste show, para mostrar o quanto trabalha, apesar de na barraca em que vive a empregada tratar de todas as obrigações domesticas, com esta pequena contribuição, para o nosso entretenimento, recebe um grande cacho, ele é cenouras, couves de Bruxelas, rabanetes, espinafres todo o tipo de alimentos que a formiga de uma forma generosa irá oferecer à diligente cigarra, pois é socialmente correcto que formiga que se preze ofereça aquelas roupinha da botica, que já deixou de usar, para a obras das cigarras da rua, ou então quando a câmara está por perto, abre aquele lindo sorriso de dentes cariados, por falta de dinheiro para pagar ao dentista e diz, estou muito feliz, estou muito feliz, o meu Doutoramento na Universidade da Lagoa de Almoster, onde os peixes já não existem pois agora corre lá um esgoto a céu aberto, mas isso não interessa agora, obviamente, reputada pela formação que dá aos seus alunos, permite-me dizer mais uma vez e com toda a graça que estou muito feliz e para que não fiquem cansados só quero dizer mais uma vez estou muito feliz, o plano fecha com os restos das sardinhas enlatadas, os pasteis de bacalhau e as tortas de Tagerro, servidas com um vinho Portel da colheita de 1820 frutado com aroma misto de cedro e banha, para não alterar a linha, como sobremesa arroz salteado com ginja e atum servido com molho quente de framboesas colhidas no próprio dia, pois caviar, perignon e outras coisas que tal já não são para formiga que se preze e tenha pagina fixa nas revistas do sector.
Falta o final feliz, já me esquecia, as histórias normalmente contam um final feliz do tipo a que todos estamos habituados, por isso pegue numa qualquer e escolha o seu final feliz, nesta mando eu por isso e vamos por partes a cigarra vai continuar a trabalhar como os disputados, será condenada a ter todos os dias de folga e pontes que o calendário permitir, quanto à formiga terá tantas festas de caridade e eventos sócias que passará o resto da vida a tratar dos dentes, pois a cigarra finalmente deu um subsídio à formiga para os tratar.