quarta-feira, junho 21, 2006

Vidas

O que será da vida sem vida, qual barco perdido sem encontrar um sinal da terra prometida que espera alcançar, como são lentos os dias a bordo, observando a imensidão do céu e do mar, sempre sem nada mudar, com vento forte ou fraco lentamente naquela vastidão, lá vai o tédio, que suporta as suas existências, barco e seu tripulante, avançando e neste torpor os dias vão quais páginas de um livro passando e sem se perceber as mudanças tudo vai mudando, são os passos inseguros da infância, os decididos da juventude, os cautelosos da fase adulta e os trémulos da idade, raros são os momentos em que a certeza os guia, mas os passos vão quais folhas arrastadas continuando o seu caminho, tolos são aqueles que acreditam progredirem na vida, com a convicção de que tudo corre de feição, o segundo seguinte é sempre uma incógnita, se agora me agarro é porque não sei o que virá depois, não consigo realizar o meu sonho, mas qual é tão pouco eu sei, sonho com aquela viagem que não fiz, com o carro que não posso comprar, eu não tenho sonhos tão simples eles são de outro estilo, sonho que me libertei dos meus medos, que me libertei da cadeia onde me encerrei por comodidade, que me libertei de mim e livre parti à procura do outro eu, que possa explorar tudo sem nada temer, a mentira claro que é uma verdade contada de forma diferente, ajuda a libertar as tensões mas tem como diz o povo perna curta, não se consegue manter sempre o mesmo sorriso.
A ilusão do sucesso faz-nos pensar que somos donos do mundo, mas que posso eu criatura sem êxito fazer, para também o ser, vou jogar, vai-me sair um prémio grande e depois com o dinheiro vou promover a minha imagem, ou irei entrar numa daquelas manifestações solitárias, a favor de alguma causa desconhecida, criar um plano de marketing e com passos seguros trilhar o caminho da fama, bolas mas isto não é possível, não nasci em berço de ouro, sem ele nada feito, por muito que possa vir a fazer, será impossível trilhar os caminhos da notoriedade, se dentro de mim existe alguém que me tolhe o espaço, que me impede de chegar onde gostaria de ir, este irmão gémeo que sou eu, mas que perdi antes de nascer, ficou preso dentro do meu ser, é ele que invariavelmente como o tempo, me persegue e me impede de, com passos ligeiros, me dirigir para o meu caminho, ando constantemente a vaguear perdido entre atalhos, que qual labirinto, se vão revelando conforme e na exacta medida em que vou caminhando, qual teia de aranha que me vai enredando e afastando-me da minha marcha, o rumo torna-se cada vez mais incerto, já não se vislumbra o norte, os obstáculos que em pequenos parecem grandes, agora soam intransponíveis dentro de mim, tal a dimensão que na realidade têm, procuro um passo de magia que me arranque deste estado e me conduza a um porto seguro, mas onde estará esse espaço, onde possa encontrar alguma protecção.
Longo é o caminho de quem está só, por mais que faça pode talvez não se sentir só, claro que estou a falar daqueles que não param para pensar, eu contudo não sou desse género, comigo tudo toma uma dimensão por demais real, seria bom passar por tudo sem me sentir só, as decisões seriam mais simples e menos penosas, mas por muito que me esforce não sou capaz de simplificar, ou não quero tão pouco já sei, nesta indecisão entre o que sou ou não, a razão ou razões pouco me importam, ou talvez não, mas neste mar de duvidas tenho que continuar, sempre em frente mesmo, que não saiba a direcção nem o lugar onde me vou encontrar, tenho contudo que prosseguir mesmo correndo o risco de não chegar, mesmo que busque aquele lugar que jamais existe, entre chegadas e partidas mesmo com a alegria de partir e a tristeza de chegar, continuo sempre livre para poder sonhar, mas eu não sonho, abro os olhos a uma realidade que quero fantasiar, para que me possa libertar da carga que me arrasta, penosamente e numa direcção aonde ninguém me consiga ir buscar, serei assim como aquele vagabundo que de tanto andar, ficou parado a apreciar a imensidão do espaço que o rodeava e pensou como seria bom encontrar um assento onde me pudesse sentar, de repente a praça encheu-se de gente, era tal o barulho que ele apesar de encontrar um lugar, fugiu para não voltar, assustou-se com todo o burburinho que a sua presença causou, e feliz não voltou.

1 Comments:

At 3:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

gostava de perceber como é possível andar perdido tanto tempo

 

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